“Escrever romances, para mim, é
basicamente um tipo de trabalho braçal. Escrever, em si mesmo, é um trabalho
mental, mas terminar um livro inteiro está mais próximo do trabalho braçal. Não
envolve levantar peso, correr ou pular. A maioria das pessoas, contudo, enxerga
apenas a realidade superficial da escrita e acha que os escritores vivem
silenciosamente concentrados em um trabalho intelectual em seu gabinete ou
escritório. Basta ter força para erguer uma xícara de café, imaginam, que você
pode escrever um romance. Mas assim que você arregaça as mangas para começar,
percebe que não é um trabalho tão tranquilo como parece. O processo todo
_sentar em sua mesa, concentrar sua mente como se fosse um raio laser, imaginar
alguma coisa em um horizonte vazio, criando uma história, escolhendo as
palavras adequadas, uma a uma, mantendo todo o fluxo da história nos trilhos_
exige muito mais energia, por um longo período, do que imagina a maioria das
pessoas. Pode ser que você não mova seu corpo de um lado para outro. Ainda
assim, há um exaustivo e dinâmico trabalho operando dentro de você. Todo
mundo usa a mente quando pensa. Um escritor, no entanto, veste um
traje chamado narrativa e pensa com todo o seu ser; e para o romancista esse
processo exige pôr em ação toda a sua reserva física, geralmente ao ponto da
estafa.”
O texto me remete à distinção ideológica, de que fala Marilena Chauí, entre trabalho intelectual e trabalho manual. De acordo com esta lógica, trabalhador é tão-só aquele que despende energia física na execução de suas atividades. Quem produz trabalhos intelectuais está excluído da categoria de 'trabalhador'. Uma vez superada a dicotomia mente/corpo, é forçoso reconhecer que o trabalho produzido intelectualmente é desempenhado por uma pessoa inteira, dotada de um cérebro que produz uma mente criativa. O escritor se envolve espiritualmente na obra em cuja construção se empenha, mas esse envolvimento requer uma mente corporificada.
ResponderExcluirBeijos, querida!
Escrever é uma tarefa bastante difícil, na medida em que um mesmo texto poderá ser interpretado de várias formas e por consequência a dificuldade em fazer passar a mensagem exacta, se tornará então ainda mais complicada, para quem escreve, naturalmente.
ResponderExcluirBeijo, Gizelda