Um dia despertei, sentei na
cama e sorri. Nada mais doía. E de súbito compreendi que não existe mulher de
verdade. Nem na terra nem no céu. Não existe em lugar algum, aquela. Existem
apenas pessoas, e em todas há um grão da verdadeira, e nenhuma delas tem o que
do outro nós esperamos e desejamos.
(...)
Você agora diz que sou um homem
magoado.Alguém me feriu. Talvez essa mulher, a minha segunda esposa. Ou a
primeira. Alguma coisa não deu certo.Fiquei só. Passei por um grande abalo
emocional. Sinto ódio. Não acredito nas mulheres, no amor, na humanidade.
(...)
Na escala inferior somos capazes de nos
alegrar com muitas coisas que suavizam a severidade implacável da vida.
Entretanto, a sensação feliz, calorosa, de viver eu não encontrei nem naqueles
que pela profissão, ou por vocação, vivem num sentimento de comunhão com a
"grande comunidade"...encontrei homens magoados, tristes,
insatisfeitos, maldosos, intensamente combativos, resignados, débeis mentais e
trabalhadores habilidosos e inteligentes. Pessoas que acreditavam que muito
devagar, a custa de acontecimentos imprevisíveis, o destino dos homens
melhoraria um pouco. É bom saber disto. Mas o saber não reduz a solidão da
vida.
Sandór Marái in De Verdade.( excertos)
Assim...
O ideal só existe na mente de quem idealiza.O texto é narrado com uma elegância de linguagem admirável, que transmite ao leitor as dores do narrador ou dos narradores.De verdade é um romance que trabalha com quatro vozes narrativas. A esposa, o marido, a amante e o amante da amante. Todos contam um casamento falido a partir de suas próprias vivências.
A sedução da palavra , o ato de narrar – não propriamente boa história cheia de tramas – é o que faz em verdade um romance genial. Simples , preenche a alma de quem o lê.
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