segunda-feira, 2 de julho de 2012
Se eu não sei que não sei penso que sei.
Reconhecimento à loucura.
( Almada Negreiros)
Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parece ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-lhe, e ganhar-lhe
ao ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?
Tu só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar.
in Laços,
do antipsiquiatra Ronald David Laing
“Eles estão jogando o jogo deles.
Eles estão jogando de não jogar um jogo.
Se eu lhes mostrar que os vejo tal qual eles estão,
quebrarei as regras do seu jogo
e receberei a sua punição.
O que eu devo, pois, é jogar o jogo deles,
o jogo de não ver o jogo que eles jogam”.
“Eles não estão se divertindo.
E se eles não se divertem eu também não me divirto.
Somente se eu puder levá-los a se divertir
poderei divertir-me juntamente com eles.
Mas não é nada divertido levá-los a divertir-se;
pelo contrário, é trabalho muito árduo.
Quem sabe, eu talvez me divertisse
se descobrisse por que não se divertem.
Mas não fica nada bem que me divirta procurando
saber o porquê não se divertem.
Ainda assim é um pouco divertido o ato de fingir
que não encontro diversão em descobrir
o motivo por que não se divertem”.
“Se eu não sei que não sei
penso que sei.
Se eu não sei que sei
penso que não sei”.
Segundo Foucault , o louco é “prisioneiro da mais aberta das estradas”, comparando, assim, a pequenez duma prisão à imensidão do mar. O lugar para onde o insano está indo não é a sua terra, muito menos é aquela que ficou para trás. A terra do louco se limita à distância entre ambas as terras, a que foi sua e a que nunca será. Um limbo?...
Enovelando o cérebro em férias...(?)
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