quinta-feira, 26 de julho de 2012

A monotonia é que é a felicidade.



Em sua essência a vida é monótona. A felicidade consiste pois numa adaptação razoavelmente exata à monotonia da vida. Tornarmo-nos monótonos é tornarmo-nos iguais à vida; é, em suma, viver plenamente. E viver plenamente é ser feliz.

Os ilógicos doentes riem - de mau grado, no fundo - da felicidade burguesa, da monotonia da vida do burguês que vive em regularidade quotidiana e, da mulher dele que se entretém no arranjo da casa e se distrai nas minúcias de cuidar dos filhos e fala dos vizinhos e dos conhecidos. Isto, porém, é que é a felicidade.

Parece, a princípio, que as cousas novas é que devem dar prazer ao espírito; mas as cousas novas são poucas e cada uma delas é nova só uma vez. Depois, a sensibilidade é limitada, e não vibra indefinidamente. Um excesso de cousas novas acabará por cansar, porque não há sensibilidade para acompanhar os estímulos dela.

Conformar-se com a monotonia é achar tudo novo sempre. A visão burguesa da vida é a visão científica; porque, com efeito, tudo é sempre novo, e antes de este hoje nunca houve este hoje.

É claro que ele não diria nada disto. Às minhas observações, limita-se a sorrir; e é o seu sorriso que me traz, pormenorizadas, as considerações que deixo escritas, para meditação dos pósteros.

Fernando Pessoa in 'Reflexões Pessoais'





É mais ou menos como a história do príncipe encantado.Enquanto o procuramos- em vão- deixamos passar um possível grande amor que vive ao nosso lado, Assim  é a felicidade : em busca das grandes , perdemos as pequenas, aquelas que vivemos todos os dias sem perceber.Só as percebemos quando se vão, mas então...que pena! Elas não nos querem mais.

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