Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de fim de verão entra pela varanda [....) Dou a face inteira à inundação da lua, que me corre por este corpo perecível, o trespassa do seu fluido de eternidade, o transmigra ao paíis da legenda. Um grande halo de grandes olhos abertos suspende-se raiado à anunciação da evidência. Sei e não temo Será o temor só dos outros, para os outros, como são deles as palavras? Sei, não talvez como quem conquistou mas como quem se despoja: a minha verdade é o que me sobeja de tudo. Quantos anos ainda à espera? Que caminhos desertos ou de estalagens à espera? Mas o tempo não existe senão no instante em que estou. Que me é todo o passado senão o que posso ver nele do que me sinto, me sonho, me alegro ou me sucumbo? Que me é todo o futuro, senão o que agora me projecto? O meu futuro é este instante desértico e apaziguado. [...] O tempo não passa por mim: é de mim que ele parte, sou eu sendo ,vibrando. Como imaginar o futuro? [...]
In Aparição / Vergílio Ferreira.
Imperdível...
Vergílio, na linha de Sartre e, principalmente, de Heidegger, é obcecado pelo mistério do ser, pela procura do sentido da existência humana, o que o leva a refletir e observar sem cessar o homem, suas idéias e ações. Preso a um espaço e tempo determinado, com uma pseudoliberdade, o homem pensa e age inconscientemente, enfrenta problemas de relacionamento de seu eu com o eu do outro e não sabe como se colocar perante a finitude da vida. O homem deve procurar sua aparição ou epifania, aparecendo a si mesmo, com plena consciência de suas possibilidades e limitações, capaz de conhecer-se e assumir-se como ser com o outro, para a morte ou contra a morte. Filosofias e religiões não dão conta de conduzir o homem no caminho de busca de si mesmo. Ele está só, preso a um espaço e tempo povoados pela memória da morte, por diálogos que nunca se completam e símbolos que nada significam.
Espaço e tempo são expressão, causa e consequência do pensamento e ação das personagens de Vergílio. É preciso evitar o espaço de baixo, apertado, frio, sem portas e sair para o sol, a lua, o campo, não se perder em tradições que estrangulam o progresso, viver com consciência e autenticidade, fazer com que o inferno não sejam os outros, que a introspecção não impeça o homem de construir com responsabilidade seu destino.
Com um estilo personalíssimo, Vergílio discute os mais palpitantes temas que angustiam o homem desta e de outras épocas, acreditando na possibilidade de convivência e comunicação entre os homens, não comunhão, desde que sejam autênticos e não exijam mais do que a condição humana - votada à morte, frágil, limitada, entregue exclusivamente a si mesma - pode proporcionar.
Pela arte, o homem pode auto-afirmar-se, sentir-se criador e esquecer, mesmo que por instantes, o peso de sua condição humana.
Manoel Fernando Passaes ( USP-tese de doutorado)
gizelda,
ResponderExcluirdesde que li a 1º vez o Vergílio Ferreira, e precisamente este livro, apaixonei-me.ele mostrava-me, sempr,e que aquilo que me interessa(va) não era um disparate de menina. lembro-me de o incluir sempre nas listas de presentes para os meus aniversários e Natais. Sim porque os livros são os meus presentes preferidos , mas como tenho muitos, há que fazer uma listinha para os íntimos.
andei obcecada com a sua Conta-Corrente. acho que ainda não os tenho todos.
obrigada por o colocara aqui com a sua reflexão.
beijo graaaaaande
Sinto repercutir neste texto alguns textos meus... Adorei! "(...) o tempo não existe senão no instante em que estou".
ResponderExcluirBeijos carinhosos!
vim ver as novidades e deixar um beijo.
ResponderExcluiraproveito e corrijo o anterior comentário:
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"gizelda,
desde que li PELa 1º vez o Vergílio Ferreira, e precisamente este livro, apaixonei-me.ele mostrava-me, sempre, que aquilo que me interessa(va) não era um disparate de menina. lembro-me de o incluir nas listas de presentes para os meus aniversários e Natais. Sim, porque os livros são os meus presentes preferidos , mas como tenho muitos, há que fazer uma listinha para os íntimos.
andei obcecada com a sua "Conta-Corrente" (são uns quantos volumes). acho que ainda não os tenho todos.
obrigada por o colocar aqui com a sua reflexão.
beijo graaaaaande