sexta-feira, 2 de outubro de 2009
...um tempo de noite e de morte.
Para mim, tudo tinha parado. Mesmo que o dia nascesse, mesmo que as coisas vivas começassem lentamente a acordar. Para mim, tudo tinha parado. O dia podia nascer, os pássaros podiam cantar, que, para mim, o tempo tinha parado num tempo de noite e de morte.
Para mim, os pássaros não existiam, porque eu não acreditava nos pássaros a cantarem. Mas os corpos começavam a mexer-se. Os pássaros cantavam. Os dias nasciam. O céu brilhava. Eu sabia tudo aquilo em que não acreditava e estava ainda mais sozinho, ainda mais sozinho por isso.
Eu estava tão sozinho que a minha solidão, eu, tinha sido recortada com precisão do mundo. Os meus contornos eram exatos a isolarem-me do mundo.
Eu não queria existir. Eu não queria que o meu rosto fizesse parte das coisas que podem ver-se. Eu queria que os espelhos não me refletissem, que ninguém me ouvisse, que ninguém soubesse da minha voz ou se lembrasse do meu nome, do meu rosto, das minhas memórias. Eu queria não ser sequer algo que se esquece.
Lutava sozinho contra as manhãs.
José Luis Peixoto in Uma Casa na Escuridão
Voltando á sanidade mental... ( será????)
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