sábado, 24 de outubro de 2009

Uma vez é nunca.



Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado.

Mas, o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço.

No entanto, mesmo “esboço” não é palavra certa porque um esboço é um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço da nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro.

Tomás repete para si mesmo o provérbio alemão: einmal it keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é como não viver nunca.

Milan Kundera in A insustentável leveza do ser.

3 comentários:

  1. O título do seu post é perfeito.

    É possível também dizer, na melhor das hipóteses: uma vez é pouco, exatamente porque não permite o conhecimento pleno de todas as possibilidades não escolhidas - por exemplo, a vida que poderíamos ter vivido e não vivemos, por ter decidido seguir por um dos lados da estrada, que fazia um "Y".

    E, porque não acredito em "destino" (fazemos escolhas o tempo todo), "uma vez só" nunca permitirá que se afirme: "Es muss sein!".

    Como sempre, você nos brinda com textos que levam à mais aguda reflexão.

    Beijo.

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  2. Pois é, João, fazemos diariamente rascunhos de coisas menores e não podemos fazê-los quando se trata da vida!
    Que bom encontrá-lo mais uma vez!

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  3. Ai ai viu.....text totalmente adequado pra esse meu momento de vida...estou perdida no meio dos meus rascunhos ainda...hehehe...que bom é poder vir aqui com sede de palavras...BEIJOS!

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