terça-feira, 27 de setembro de 2011
...quando quis tirar a máscara,estava pegada à cara.
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
in Tabacaria /Álvaro de Campos (F.P)
Em se tratando de Fernando Pessoa , meu preferido são todos.
Se, por hipótese, tiver que escolher um , fico com Bernardo Soares e o Livro do Desassossego. ( o homenageado pelo meu blog).
Livros exercem um poder absurdo sobre mim, porque fico possuída por eles dias inteiros,quando os leio e me agradam.Ontem, foi Álvaro de Campos. Difícil dormir com tantas perguntas sem respostas,com tantas palavras harmoniosas se juntando e criando labirintos de vida.
Assim, hoje, ele aqui está com um ínfimo de tudo que é.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Essa possessão pelos livros, essa possessão das palavras, essa inquietude que nos provoca o excesso de perguntas e a carência de respostas, essa plenitude de Pessoa - tudo isso comparilho contigo. Comungo desse sentir que nos transborda!
ResponderExcluirBeijos carinhosos!
Bernardo Soares e o desassossego... pensamentos de cabeceira antes de sonhos a realizar!
ResponderExcluirAmo esse texto! O dominó que vesti era errado, Conheceram-me logo pelo que não era e não desmenti, e perdi-me.
ResponderExcluirSerá que o amo na identificação? rs
Saudades de passar mais por aqui, e de te receber lá em "casa"!!!
Bjk
Vamn
Eu amo a poesia tirando a mascara!
ResponderExcluirApaixonado por este texto:"...Fiz de mim o que não soube.../...O dominó que vesti era errado..."
ResponderExcluirQuando quis tirar a mascara, estava pega à cara. quando a tirei e me vi ao espelho, já tinha envelhecido .
ResponderExcluirPoema lindo de Fernando Pessoa, indicado por padre Fábio de Melo
ResponderExcluir