By Alyssa Monks
(…) Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte ” (pp.42-43). (…) Talvez eu tenha de chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. (…) Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe” (pp.44-45).
Clarice Lispector, Felicidade clandestina: contos, Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1998,
Conto “Perdoando Deus”.
Ler Clarice é um exercício de clarividência, angústia e questionamentos...quase sempre sem respostas.
Querida Gi, não posso ousar ser Clarice,mas ela é mais eu do que eu mesma , principalmente na Clandestinidade do meu íntimo.
ResponderExcluirObrigada, precisava disso hj...
beijos
Deixa-nos sem margem para comentar de tão sério e perturbador.
ResponderExcluirAssim é Clarice Lispector!
Um beijo
Querida Thaís...
ResponderExcluirRealmente, ninguém ousaria, mas lê-la sempre nos dá a sensação de que nossas angústias tem companhia.
Beijos, querida.
Lídia...
ResponderExcluirClarice é silenciosa e definitiva.Ela se basta e nos basta.
Beijos. Obrigada.
Adorei este texto e o modo como é explicado o amor verdadeiramente sentido...
ResponderExcluirÉ preciso acabar com tanto egoismo porque senão acaba-se amando aquilo de nós que encontramos no outro...
Beijo e boa semana
Graça
Eu não gosto de comentar muito, quando a escrita me ensina como me interrogar.
ResponderExcluirObrigada pelas suas escolhas, amiga!
Beijinho
Graça...
ResponderExcluirTalvez seja esse o ponto-chave:amamos nós mesmos no outro,e quando percebemos já é um pouco tarde.
Clarice tem o poder de nos fazer pensar além.
beijos, querida. Obrigada.
Querida Ibel...
ResponderExcluirClarice é para ser partilhada em silêncio, mesmo porque tudo o que poderíanos dizer , ela já disse.
Gosto muito de você aqui. Beijo.