quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Do corpo repousado.

Talvez a vida não seja luminosa
Mas tem momentos: o lago da cama, o sol
Na lombada dos livros,
o joelho amável
Da mulher deitada.
Como vai ser a manhã
Não sei, ergo a minha taça.


Amadurece o mar, mergulho na luz
E regresso a casa: a boca na maçã
À sombra do teu olhar, a música
Dos gatos, as tuas mãos que envolvem
As árvores ao meio dia.
Sabor a terra,
Gota a gota na minha língua.

Caminho na praia como quem sente
As peles sobrepostas do mundo em volta
Do meu corpo, coração de pó
E sento-me em repouso a ouvir a respiração
Do vinho.
Talvez a noite não apague
Esta magia.

Casimiro de Brito in 69 Poemas de Amor,4Águas Editora 2008

Há uma fase da vida que poderíamos chamar de " da caça à felicidade".É uma violência para a qual não estamos preparados, pois na ópera cômica os amores são felizes porque são capazes de tocar o mundo exterior com a mágica leveza da graça e do riso.
Não é suficiente repousar o corpo, é preciso repouso da alma , para que a felicidade se instale quase imperceptível. É o bastante!

8 comentários:

  1. Casimiro de Brito, algarvio, pai de uma amiga minha, Sílvia, actriz.
    Gostei de o ler aqui, Gizelda.
    Obrigada.

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  2. Em@...
    Foi difícil escolher um poema entre tantos de qualidade. Já o conhecia, e gosto muito de trabalho poético que ele cria.

    Pode dizer para sua amiga que vou postá-lo mais vezes,por puro merecimento.

    Beijo. Obrigada.

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  3. Devo confessar que não conhecia nem o poeta ,nem o poema e que fiquei seduzida pelo caminho em que ele conduz as palavras que parecem erguer o seu caule...á procura da luz, sinuosamente são seiva e sinal da sua memória...
    Quanto á felicidade, minha querida, é como o vento que...não se sabe de onde veio e nem para onde vai...mas é preciso estar atenta para agarrar esse momento!!!
    Beijos carinhosos.
    Graça

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  4. Olá Giz
    adorei o maravilhoso poema,
    sem sombra de dúvidas que é bastante profundo e intenso.
    Quanto à felicidade,
    o que eu penso é que ela está sempre presente, embora na grande maioria das vezes a gente nem se dá conta dela!!

    Beijo

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  5. Oi, Graça...

    Ele tem alguns poemas muito bons, com uma leveza muito singular.
    E, sem dúvida, " felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar..."às vezes passa e a gente nem vê.

    Beijos, muitos. Obrigada.

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  6. Gizelda,

    "Talvez a vida não seja luminosa
    ...E regresso a casa
    ...E sento-me em repouso a ouvir a respiração"

    Retirando assim estas expressões deste belíssimo texto, vejo que muitas das vezes é o que tentamos fazer (independentemente do conceito de "casa" aqui referido).
    Este regresso e apaziguamento apenas os vejo como uma pausa para uma nova tentativa de continuar essa procura, de ter alento para desafiar/encontrar os que "são capazes de tocar o mundo exterior com a mágica leveza da graça e do riso".

    É sempre um prazer repousar o corpo e a alma por aqui!!!

    Beijinhos, Gizelda!

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  7. Acho que condicionamos a felicidade a algumas exigências descabidas, concretas, e ela é tão mais simples e eterea que, quando nos toca,não a percebemos.

    Se nossa alma estivesse em repouso, talvez fosse mais fácil senti-la.

    Beijos e um lindo domingo para você, JB.

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  8. HC...
    na maioria das vezes estamos em busca da grande felicidade e deixamos escapar as pequenas e cotidianas com as quais convivemos sem perceber.

    Complicado e eterno.

    Beijos, querido.

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