(…) Talvez eu tenha de chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. (…) Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe” (pp.44-45).
Clarice Lispector, Felicidade clandestina: contos, Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1998,
Conto “Perdoando Deus”.
Ler Clarice é um exercício de clarividência, angústia e questionamentos...quase sempre sem respostas.