domingo, 23 de maio de 2010
Only You.
De vez em quando, sem querer, tenho uma aguda consciência do passado. Ele volta em flashes que persistem em permanecer, faz-se presença sólida no ar. Vejo pessoas, ouço vozes, revejo paisagens,sinto odores ou gostos , tenho uma necessidade absurda do “ de novo” ou ainda “ de um pouco mais”, uma vontade estúpida de reter o que já não existe.
Hoje,de maneira incomum, essa sensação me veio por uma música- The Platters entoava “Only You” em algum lugar distante,o som abafado mas tão perceptível que mesmo quando a música acabou, continuei a ouvi-la.
Lembrei-me de um amigo de juventude que já se foi.E com ele, vieram lembranças de outros que também partiram cedo demais, gente que fez parte da minha vida e que perdi nas curvas do caminho.Fui assaltada pela sutil percepção de que para eles- e para os que ficamos- a vida passou.
Senti necessidade de vasculhar gavetas de armários, caixas e laçarotes onde papeis amarelados e algumas fotos vivem ainda. Por que teimosamente os guardo? Talvez, se eu me desfizer deles, tenha a impressão de que aqueles momentos não foram reais e palpáveis.São testemunhos.
Esse meu amigo (por algum tempo,mais que isso), revi-o no caótico trânsito de uma tarde , na Avenida Paulista, em São Paulo. O carro dele emparelhou-se com o meu ; primeiro, a surpresa ( depois de tanto tempo! Quase 20 anos...), um sorriso, um aceno de mão e o sinal se abriu. Nenhuma palavra.E nós nos perdemos ali para sempre .Nunca mais nos vimos e quando soube dele há pouco, a notícia era de que ele partira...Apaguei, na hora, inconscientemente a notícia, porque me incomodou e ela voltou -agora-viva e contundente
Poderia ter-lhe perguntado , pelo menos, se ele estava feliz.O que fazia. Se os seus sonhos tinham,alguns deles,se concretizado...Não o fiz. Será que ele teria gostado de ter-me dito algo também? Nunca vou saber...Ficaram apenas um aceno e um silencioso sorriso.
Na verdade, nos achamos imorredouros e deixamos sempre que passem grandes oportunidades de pequenos atos cotidianos. Uma palavra,talvez um abraço, um carinho...Que pena!
É ,foi isso ,amigo. Assim você voltou para mim, hoje.Em notas musicais.E foi bom...e foi bonito.
Quem sabe você não está por aí, ouvindo a mesma música? Quem sabe...e até um dia!
Valinhos , 19 de junho de 2003.
Não...dessa vez não estava em uma agenda, e sim em um papel cuidadosamente dobrado em uma caixa de fotos antigas, daquelas que transpiram saudades.De quantas dessas preciosidades minha vida é feita? Raízes...é isso.
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