“Não busque mais, no futuro, reencontrar um dia o passado.
Apreende a novidade dessemelhante de cada momento e não prepares tuas alegrias,
ou saibas que em seu lugar preparado outra alegria te surpreenderá.
Como não compreendeste que toda felicidade é casual e se
apresenta a ti em cada instante como um mendigo em teu caminho. Infeliz de ti
se disseres que tua felicidade é morta porque não a tinha sonhado igual a isso
– e que só a admites conforme com teus princípios e desejos.
O sonho de amanhã é uma alegria, mas a alegria de amanhã
outra alegria é, e nada felizmente se assemelha ao sonho que se tenha tido;
porque é diferentemente que vale cada coisa.
Não quero que me digas: vem, preparei-te tal ou qual alegria;
não gosto mais senão das alegrias casuais, e as que minha voz faz que jorrem do
rochedo. Escorrerão assim para nós, novas e fortes, como os vinhos abundam no
lagar.
Não gosto que minha alegria se enfeite, para beijá-la não
limpei de minha boca as manchas que os cachos de uvas deixaram; depois dos
beijos bebi o vinho doce sem refrescar a minha boca; e comi com a cera o mel da
colmeia.
Não prepares nenhuma
de tuas alegrias.”
André Gide in Frutos da Terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário