domingo, 9 de junho de 2013

É diferentemente que vale cada coisa.



“Não busque mais, no futuro, reencontrar um dia o passado. Apreende a novidade dessemelhante de cada momento e não prepares tuas alegrias, ou saibas que em seu lugar preparado outra alegria te surpreenderá.

Como não compreendeste que toda felicidade é casual e se apresenta a ti em cada instante como um mendigo em teu caminho. Infeliz de ti se disseres que tua felicidade é morta porque não a tinha sonhado igual a isso – e que só a admites conforme com teus princípios e desejos.

O sonho de amanhã é uma alegria, mas a alegria de amanhã outra alegria é, e nada felizmente se assemelha ao sonho que se tenha tido; porque é diferentemente que vale cada coisa.

Não quero que me digas: vem, preparei-te tal ou qual alegria; não gosto mais senão das alegrias casuais, e as que minha voz faz que jorrem do rochedo. Escorrerão assim para nós, novas e fortes, como os vinhos abundam no lagar.

Não gosto que minha alegria se enfeite, para beijá-la não limpei de minha boca as manchas que os cachos de uvas deixaram; depois dos beijos bebi o vinho doce sem refrescar a minha boca; e comi com a cera o mel da colmeia.


 Não prepares nenhuma de tuas alegrias.”

André Gide in Frutos da Terra.


















Nenhum comentário:

Postar um comentário