(...)
“Remédios, a bela, foi a única a
permanecer imune à epidemia das bananeiras. Deteve-se
numa adolescência magnífica, cada vez mais impermeável aos formalismos,
mais indiferente à malícia e à desconfiança, feliz num mundo próprio de
realidades simples. Não percebia por que razão as mulheres complicavam a vida
com corpetes e saiotes, de modo que coseu
um balandrau de canhamaço que enfiava simplesmente pela
cabeça e resolvia sem mais delongas o problema de se vestir, sem lhe tirar a
impressão de estar nua, que era na sua maneira de ver as coisas, a única forma
decente de estar em casa. Aborreceram-na tanto para que cortasse o cabelo e
para que fizesse carrapitos com travessas e tranças com laços
coloridos, que muito simplesmente rapou a cabeça e fez perucas para santos. O que
era espantoso no seu instinto simplificador era que quanto mais
se desembaraçava da moda em busca da comodidade, quanto mais passava
por cima dos convencionalismos obedecendo à espontaneidade, mais
perturbadora se tornava a sua beleza incrível e mais provocador o seu
comportamento com os homens.”
(,,,)
"As coisas têm vida própria", apregoava o cigano com áspero sotaque, "tudo é questão de despertar a sua alma." José Arcadio Buendía, cuja desatada imaginação ia sempre mais longe que o engenho da natureza, e até mesmo além do milagre e da magia, pensou que era possível se servir daquela invenção inútil para desentranhar o ouro da terra.
A única coisa que conseguiu desenterrar foi uma armadura do século xv, com todas as suas partes soldadas por uma camada de óxido, cujo interior tinha a ressonância oca de uma enorme cabaça cheia de pedras. Quando José Arcadio Buendía e os quatro homens da sua expedição conseguiram desarticular a armadura, encontraram dentro um esqueleto calcificado que trazia pendurado no pescoço um relicário de cobre com um cacho de cabelo de mulher."
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"As coisas têm vida própria", apregoava o cigano com áspero sotaque, "tudo é questão de despertar a sua alma." José Arcadio Buendía, cuja desatada imaginação ia sempre mais longe que o engenho da natureza, e até mesmo além do milagre e da magia, pensou que era possível se servir daquela invenção inútil para desentranhar o ouro da terra.
A única coisa que conseguiu desenterrar foi uma armadura do século xv, com todas as suas partes soldadas por uma camada de óxido, cujo interior tinha a ressonância oca de uma enorme cabaça cheia de pedras. Quando José Arcadio Buendía e os quatro homens da sua expedição conseguiram desarticular a armadura, encontraram dentro um esqueleto calcificado que trazia pendurado no pescoço um relicário de cobre com um cacho de cabelo de mulher."
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“O Coronel Aureliano Buendía arranhou durante muitas horas, tentando rompê-la, a dura casca da sua solidão. Os seus únicos momentos felizes, desde a tarde remota em que seu pai o levara para conhecer o gelo, haviam transcorrido na oficina de ourivesaria, onde passava o tempo armando peixinhos de ouro. Tivera que promover 32 guerras, e tivera que violar todos os seus pactos com a morte e fuçar como um porco na estrumeira da glória, para descobrir com quase quarenta anos de atraso os privilégios da simplicidade”.
In "Cem Anos de Solidão" ( excertos) -
Gabriel Garcia Marquéz
Em um lugar encantado chamado Macondo...
Cem anos de solidão são enfrentados por personagens cheios de amor e coragem mas que não escapam do vazio, da inquietude da vida e dos mistérios que ela traz.
Uma epopeia de magia e sentimento.
Simplesmente imperdível.
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