domingo, 13 de novembro de 2011

Estrelas, estrelas,rezo.




Por que surgem em mim
essas sedes estranhas? A chuva e as estrelas, essa mistura
fria e densa me acordou, 
abriu as portas de meu bosque verde e sombrio, 
desse bosque
com cheiro de abismo onde
corre água. E uniu-o à noite.
Aqui, junto à janela, o ar é mais calmo.
 Estrelas, estrelas, rezo. 
A palavra estala entre meus dentes em estilhaços
frágeis. Porque não vem a chuva dentro de mim, eu quero
ser estrela. Purificai-me um pouco e terei a massa desses
seres que se guardam atrás da chuva.


Clarice Lispector in  Perto do Coração Selvagem.


Sem palavras.

Um comentário:

  1. Gizelda,
    Não sei porquê, gostei logo de chofre deste texto que escolheu. Mas, sabe, também não quero saber o porquê. Basta-me gostar.
    (Também tenho saudades dum tempo em que éramos menos e nos sentávamos a "conversar" com mais vagar e disponibilidade. Às vezes sinto-me desiludido com este mundo virtual e apetece-me desistir, mas as coisas boas que ele encerra obrigam-me a prosseguir. Talvez por isso haja coisas das quais nunca prescindo. Como vir aqui, por exemplo.)

    Beijo :)

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