segunda-feira, 16 de novembro de 2009
O homem escreve livros porque se sabe mortal.
O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque se sabe mortal.
Ele vive em grupo porque é gregário, mas lê porque se sabe só.
Esta leitura é para ele uma companhia que não ocupa o lugar de qualquer outra, mas nenhuma outra companhia saberia substituir. Ela não lhe oferece qualquer explicação definitiva sobre o seu destino, mas tece uma trama cerrada de conivências entre a vida e ele. Ínfimas e secretas conivências que falam da paradoxal felicidade de viver, enquanto elas mesmas deixam claro o trágico absurdo da vida.
De tal forma que nossas razões para ler são tão estranhas quanto nossas razões para viver. E a ninguém é dado o poder para pedir contas dessa intimidade.
Daniel Pennac, Como um Romance (Rocco)
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