terça-feira, 17 de maio de 2011

O homem nasceu para a felicidade.


Ser feliz é, afinal, não esperar muito da felicidade, ser feliz é ser simples, desambicioso, é saber dosar as aspirações até àquela medida que põe o que se deseja ao nosso alcance. Pegando de novo em Tolstoi, que vem sendo em mim um padrão tutelar, lembremos de novo um dos seus heróis, o príncipe Pedro Bezoukhov (do romance 'Guerra e Paz'). As circunstâncias fizeram-no conviver no cativeiro com um símbolo da sabedoria popular, um tal Karataiev. Pois esse companheirismo desinteressado e genuíno, esse encontro com a vida crua mas desmistificadora, não só modificaram o príncipe Pedro como lhe revelaram o que ele precisava de saber para atingir o que nós, pobres humanos, debalde perseguimos: a coerência, a pacificação interior, que são correctivos da desventura.

Tolstoi salienta-nos que Pedro, após essa vivência, apreendera, não pela razão mas por todo o seu ser, que o homem nasceu para a felicidade e que todo o mal provém não da privação mas do supérfluo, e que, enfim, não há grandeza onde não haja verdade e desapego pelo efémero. Isto, aliás, nos é repetido por outra figura de Tolstoi, a princesa Maria, ao acautelar-nos com esta síntese desoladora: «Todos lutam, sofrem e se angustiam, todos corrompem a alma para atingir bens fugazes».

Fernando Namora, in 'Sentados na Relva'
Nascer para a felicidade e não perceber como tocá-la...Corromper a alma para atingir bens fugazes...triste destino!

2 comentários:

  1. Gizelda,
    Em primeiro lugar desculpe pelo comentário extenso, é que você toca com seus posts aspectos delicados que conheço tão bem, sei que minhas colocações não são bem quistas e há retalhações, mas sou pela sinceridade, e lendo os artigos tão sensíveis fiquei tentada em comentar, já que passei por profunda tristeza e consegui, mudando literalmente, recuperar o bem viver.
    Quando eu era criança a felicidade era brincar de amarelinha na rua, subir nas árvores e telhados,andar de bicicleta e rolemã, comer bolinho de chuva, paçoca e arroz com feijão. Eramos felizes com pouco, não havia shoppings e quase nenhuma televisão. Conhecíamos os vizinhos, íamos a pé para a escola, estudavamos na biblioteca municipal, enfim... vivia-se com alegria e paz, em plena cidade grande (SP). Adolescente andei de metrô quando foi inaugurado, brinquei nas escadas rolantes, patinei no shopping Ibirapuera, lanchava no MC da Paulista, visitava os grandes museus, jogava moedas nas fontes da praça da Sé e ia ao Mappim com meus pais. Acompanhei a modernidade de perto e não mudei.
    Na faculdade frequentei o Centro Cultural Vergueiro, a Biblioteca Mario de Andrade, Memorial da América Latina, entre outros, e visitei todas as igrejas e mosteiros do centro para obter base cultural arquitetônica.
    Mas a vida mudou, cresci, casei, e a cidade explodiu (trânsito, violência, poluição), assim, para dar qualidade de vida a minha filhota escolhi o interior, deixei uma progressa vida profissional em prol da unidade familiar com paz e harmônia.
    Qual não foi a minha surpresa em observar que o efêmero e os bens fugazes eram passaportes para se viver em determinada sociedade... e vieram os por ques e porques.
    Perguntas: onde você mora? qual seu sobrenome? quantos carros seu pai tem? quantas casas? quantas viagens vc fez para a Disney,Paris,Roma,Inglaterra? ... E caso a lista não conferisse, os ingressos não eram dados, não se era convidado para os aniversários ou os grupos de classe com direito a banhos de piscina. Se não fosse espelho, não apenas econõmico, mas também visual, e não tivesse o cabelo, a cor, o peso, tbém não participava.
    E isto dói, mesmo que não fosse com minha filha. Onde estavam os valores morais? Como educar uma criança diante daquela realidade? Como explicar que sua educação era outra porque existem outras sociedades com outros princípios e ética?
    Tais comportamentos eram elaborados dentro de uma(s) sala de aula, sem contar aqui as práticas cruéis de bulling, e lá fora, no portão de saída os pais davam shows de má-educação, não respeitavam filas ou aos seguranças (chegando a humilhá-los), dignificados pela clássica arrogância e prepotência... eu sou fulano de tal!!!!!!
    O poder e o dinheiro comandam a cultura e a educação, corrompendo sim, a alma e a vida dos mais fragilizados,... excluem e não parecem estar nem um pouco tristes, ... e por que afinal estariam? são a elite, estão protegidos da "infelicidade".
    Drica

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  2. Drica...
    o mais importante é que vc leu nas entrelinhas das minhas postagens.Não pelo que eu quis dizer, mas pelo que esta implícito quando eu escolhi um texto determinado para postar.

    beijo. E que bom vc ter escolhido bem
    beijos para Isa.

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