O amor é uma escultura que se faz
sozinha. É uma flor inesperada sem estação do ano para surgir nem para morrer.
Vai sendo esboçado assim ao léu: aqui a sobrancelha se arqueia, ali desce a
curva do pescoço, a mão toca a ponta de um pé, no meio estende-se a floresta
das mil seduções.
Imponderável como a obra de arte, o amor nem se define nem se
enquadra: é cada vez outro, e novo, embora tão velho. Intemporal. Planta
selvagem, precisa de ar para desabrochar mas também se move nos vãos mais
escuros, em ambientes sufocantes onde rebrilham os olhos malignos da traição ou
da indiferença, e a culpa o pode matar.
O convívio é o exercito do amor na
corda bamba. Os corpos se acomodam, as almas se espreitam, até se complementam.
Mas pode-se cair no tédio – sem rede –, e bocejar olhando pela janela.
Inventamos receitas para que o amor melhore, perdure, se incendeie e renove...
nem murche nem morra. Nenhuma funciona: ele foge de qualquer sensatez, como o
perfume das maçãs escapa num cesto de vime tampado.
Se fossemos sensatos
haveríamos de procurar nem amar, amar pouco, amar menos, amar com hora marcada
e limites. Mas o amor, que nunca tem juízo, nos prega peças quando e onde menos
esperamos. Nunca nos sentimos tão inteiros como nesses primeiros tempos em que
estamos fragmentados: tirados de nós mesmos e esvaziados de tudo o mais, plenos
só do outro em nós. Nos sentimos melhores, mais bonitos, andamos com mais
elegância, amamos mais os amigos, todo mundo foi perdoados, nosso coração é um
barco para o qual até naufragar seria glorioso (ah, que naufrágios...).
Mais que isso, nesse castelo – como em qualquer castelo – não pode haver dois reis. Quem então cederá seu lugar, quem será sábio, quem se fará gueixa submissa ou servo feliz, para que o outro tome o lugar e se entronize e... reine?
Mais que isso, nesse castelo – como em qualquer castelo – não pode haver dois reis. Quem então cederá seu lugar, quem será sábio, quem se fará gueixa submissa ou servo feliz, para que o outro tome o lugar e se entronize e... reine?
No mundo das palavras há tantos artifícios quantas são as nossas
contradições. Por isso, conviver é tramar, trançar, largar, pegar, perder. E
nunca definitivamente entender o que – se fossemos um pouco sábios – deveríamos
fazer.
Farsa, tragédia grega, outras soneto perfeito: o amor, com as palavras,
se disfarça em doces armadilhas ou lâminas.
Lya Luft- Pensar é Transgredir
O texto é belo, como aliás tudo que a Lya escreve com grande sensibilidade, mas...a verdade é uma só: quando encontramos o amor, o que a gente quer mesmo é trancá-lo a sete chaves,fechar todas as portas e janelas para que ele seja todinho nosso.E aí,acontece o óbvio inaceitável : uma fresta, uma brecha...
O texto é belo, como aliás tudo que a Lya escreve com grande sensibilidade, mas...a verdade é uma só: quando encontramos o amor, o que a gente quer mesmo é trancá-lo a sete chaves,fechar todas as portas e janelas para que ele seja todinho nosso.E aí,acontece o óbvio inaceitável : uma fresta, uma brecha...
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