“Se
o homem não é, mas se faz, e se, em se fazendo, assume a responsabilidade por
toda a espécie humana, se não há valor ou moral dados a priori, mas se, em cada
caso, precisamos resolver sozinhos, sem ponto de apoio e, no entanto, para
todos, como haveríamos de não sentir ansiedade quando temos de agir?” “Queremos
a liberdade pela liberdade através de cada circunstância em particular. E, ao
querermos a liberdade, descobrimos que ela depende inteiramente da liberdade
dos outros e que a liberdade dos outros depende da nossa(...)”
Sartre, O
existencialismo é um humanismo (1946)
"Realmente, só pelo
fato de ser consciente das causas que inspiram minhas ações, estas causas já são
objetos transcendentes para minha consciência; elas estão fora. Em vão tentaria
apreendê-las.
Escapo delas pela
minha própria existência. Estou condenado a existir para sempre além da minha essência,
além das causas e motivos dos meus atos. Estou condenado a ser livre. Isso quer
dizer que nenhum limite para minha liberdade pode ser estabelecido, exceto a
própria liberdade, ou, se você preferir; que nós não somos livres para deixar
de ser livres."
Jean-Paul Sartre, O
Ser e o Nada (1943)
O
homem é um ser apenas possível. Existo à medida que transformo esse possível em
real.
É
no processo livre de escolha, a cada dia, de nossa existência que construímos a
essência humana. Escolhemos a nossa essência ao procedermos à escolha do
personagem que pretendemos ser. Daí, a famosa frase de Sartre: “A existência
precede a essência”.
Frequentemente
esqueço que eu mesmo escolhi livremente construir os amores, esquecer-me dos
amigos ou curtir meus pais. Mas o mais saboroso, e quase fantástico, desta
aventura humana é que cada uma vai fazendo sua libertação ao longo deste
caminhar. E não só a sua vida, mas de toda a humanidade, pois, com sua vida,
está construindo sua essência humana.
O
homem é um ser que não pode querer senão a sua liberdade e que reconhece também
que não pode querer senão a liberdade dos outros. Daí que ninguém vive livre
sozinho... Enfim, para Sartre, não existe o destino, nós construímos o nosso
futuro.
F.J.
Almeida "Sartre - É Proibido Proibir", Editora FTD, São Paulo, 1988.
Toda manhã esconde um entardecer e este traz consigo a noite...a minha reflexão , hoje, desde a hora em que olhei pela janela.Não sou livre para escolhê-las.Será?!!!!
O homem é livre para voar mas tem de respeitar a vida...
ResponderExcluirbeijo Lisette.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNão podemos acusar Sartre de não estar consciente de que nossa liberdade é limitada pelas coerções sociais, já que, sabemos, ele bebeu da fonte marxista. Contudo, acredito não ser errado pensar que ele atribuiu à liberdade um caráter absoluto, a ponto de considerar que ela é a essência humana. Para Sartre, a essência humana (que não é algo a priori) é "ser livre" ou "ser condenado a ser livre". O que define o ser do homem é a liberdade. Sartre pensa a liberdade correlativamente ao ser, à consciência e à existência. Faltou-lhe considerar a relação entre a consciência e a Natureza. Aqui é forçoso ver a importância do corpo. É o que faz Merlaeau-Ponty, para quem a liberdade deve ser pensada na experiência entre a Natureza e a consciência. Esta passagem abaixo do autor, em "A fenomenologia da percepção", é bastante elucidativa:
ResponderExcluir"Que é então a liberdade? Nascer é simultaneamente nascer do mundo e nascer para o mundo. O mundo já está constituído, mas nunca completamente constituído. Sob a primeira relação, nós somos solicitados, sob a segunda, estamos abertos a uma infinidade de possibilidades. Mas essa análise é abstrata, pois existimos sob as duas relações simultaneamente. Nunca há, então, determinismo, nunca há escolha absoluta; nunca sou coisa, nunca sou consciência absoluta".
É interessante ver que Merleau-Ponty admite que o nascimento é um acontecimento que independe de nossa vontade, é, pois, um dado natural. Por outro lado, ao sermos colocados no mundo, somos solicitados a tomar parte de seus acontecimentos, somos instados a nos (re)inventar. Seu conceito de liberdade ganha concretude, na medida em que ele entende que a experiência de liberdade passa pela experiência concreta de nosso corpo. O destino para Merleau-Ponty é ter nascido (fato pelo qual não somos responsáveis); já estando no mundo, nosso destino torna-se pelo exercício da liberdade história. A história é, portanto, a passagem do natural para o humano. A nossa história é a história da luta pela direito ao exercício de nossa liberdade. Onde a liberdade se fez urgente, gritou do fundo do corpo, a guerra tornou-se inevitável e necessária.
Beijos, amiga!