sexta-feira, 13 de abril de 2012

Condenados a ser livres: filosofia ou paradoxo?



“Se o homem não é, mas se faz, e se, em se fazendo, assume a responsabilidade por toda a espécie humana, se não há valor ou moral dados a priori, mas se, em cada caso, precisamos resolver sozinhos, sem ponto de apoio e, no entanto, para todos, como haveríamos de não sentir ansiedade quando temos de agir?” “Queremos a liberdade pela liberdade através de cada circunstância em particular. E, ao querermos a liberdade, descobrimos que ela depende inteiramente da liberdade dos outros e que a liberdade dos outros depende da nossa(...)”
Sartre, O existencialismo é um humanismo (1946)
  
"Realmente, só pelo fato de ser consciente das causas que inspiram minhas ações, estas causas já são objetos transcendentes para minha consciência; elas estão fora. Em vão tentaria apreendê-las.
Escapo delas pela minha própria existência. Estou condenado a existir para sempre além da minha essência, além das causas e motivos dos meus atos. Estou condenado a ser livre. Isso quer dizer que nenhum limite para minha liberdade pode ser estabelecido, exceto a própria liberdade, ou, se você preferir; que nós não somos livres para deixar de ser livres."
Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada (1943)


O homem é um ser apenas possível. Existo à medida que transformo esse possível em real.
É no processo livre de escolha, a cada dia, de nossa existência que construímos a essência humana. Escolhemos a nossa essência ao procedermos à escolha do personagem que pretendemos ser. Daí, a famosa frase de Sartre: “A existência precede a essência”.
Frequentemente esqueço que eu mesmo escolhi livremente construir os amores, esquecer-me dos amigos ou curtir meus pais. Mas o mais saboroso, e quase fantástico, desta aventura humana é que cada uma vai fazendo sua libertação ao longo deste caminhar. E não só a sua vida, mas de toda a humanidade, pois, com sua vida, está construindo sua essência humana.
O homem é um ser que não pode querer senão a sua liberdade e que reconhece também que não pode querer senão a liberdade dos outros. Daí que ninguém vive livre sozinho... Enfim, para Sartre, não existe o destino, nós construímos o nosso futuro.

F.J. Almeida "Sartre - É Proibido Proibir", Editora FTD, São Paulo, 1988.


Toda manhã esconde um entardecer e este traz consigo a noite...a minha reflexão , hoje, desde a hora em que olhei pela janela.Não sou livre para escolhê-las.Será?!!!!

3 comentários:

  1. O homem é livre para voar mas tem de respeitar a vida...
    beijo Lisette.

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  2. Não podemos acusar Sartre de não estar consciente de que nossa liberdade é limitada pelas coerções sociais, já que, sabemos, ele bebeu da fonte marxista. Contudo, acredito não ser errado pensar que ele atribuiu à liberdade um caráter absoluto, a ponto de considerar que ela é a essência humana. Para Sartre, a essência humana (que não é algo a priori) é "ser livre" ou "ser condenado a ser livre". O que define o ser do homem é a liberdade. Sartre pensa a liberdade correlativamente ao ser, à consciência e à existência. Faltou-lhe considerar a relação entre a consciência e a Natureza. Aqui é forçoso ver a importância do corpo. É o que faz Merlaeau-Ponty, para quem a liberdade deve ser pensada na experiência entre a Natureza e a consciência. Esta passagem abaixo do autor, em "A fenomenologia da percepção", é bastante elucidativa:

    "Que é então a liberdade? Nascer é simultaneamente nascer do mundo e nascer para o mundo. O mundo já está constituído, mas nunca completamente constituído. Sob a primeira relação, nós somos solicitados, sob a segunda, estamos abertos a uma infinidade de possibilidades. Mas essa análise é abstrata, pois existimos sob as duas relações simultaneamente. Nunca há, então, determinismo, nunca há escolha absoluta; nunca sou coisa, nunca sou consciência absoluta".

    É interessante ver que Merleau-Ponty admite que o nascimento é um acontecimento que independe de nossa vontade, é, pois, um dado natural. Por outro lado, ao sermos colocados no mundo, somos solicitados a tomar parte de seus acontecimentos, somos instados a nos (re)inventar. Seu conceito de liberdade ganha concretude, na medida em que ele entende que a experiência de liberdade passa pela experiência concreta de nosso corpo. O destino para Merleau-Ponty é ter nascido (fato pelo qual não somos responsáveis); já estando no mundo, nosso destino torna-se pelo exercício da liberdade história. A história é, portanto, a passagem do natural para o humano. A nossa história é a história da luta pela direito ao exercício de nossa liberdade. Onde a liberdade se fez urgente, gritou do fundo do corpo, a guerra tornou-se inevitável e necessária.

    Beijos, amiga!

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