terça-feira, 18 de outubro de 2011

Raízes.Preciso delas para viver.



De vez em quando, sem querer, tenho uma aguda consciência do passado. Ele volta em flashes que persistem em permanecer, faz-se presença sólida no ar. Vejo pessoas, ouço vozes, revejo paisagens,sinto odores ou sabores , tenho uma necessidade absurda do “ de novo” ou ainda “ de um pouco mais”, uma vontade estúpida de reter o que já não existe.

Hoje,de maneira incomum, essa sensação me veio por uma música- The Platters entoava “Only You”- em algum lugar distante,o som abafado, mas tão perceptível que mesmo quando a música acabou, continuei a ouvi-la.

Lembrei-me de um amigo de juventude que já se foi.E com ele, vieram lembranças de outros que também partiram cedo demais, gente que fez parte da minha vida e que perdi nas curvas do caminho.Fui assaltada pela sutil percepção de que para eles- e para os que ficamos- a vida passou.

Senti necessidade de vasculhar gavetas de armários, caixas e laçarotes onde papeis amarelados e algumas fotos vivem ainda. Por que teimosamente os guardo? Talvez, se eu me desfizer deles, tenha a impressão de que aqueles momentos não foram reais e palpáveis.São testemunhos.

Esse meu amigo (por algum tempo,mais que isso), revi-o no caótico trânsito de uma tarde , na Avenida Paulista, em São Paulo. O carro dele emparelhou-se com o meu ; primeiro, a surpresa ( depois de tanto tempo! Quase 20 anos...), um sorriso, um aceno de mão e o sinal se abriu. Nenhuma palavra.E nós nos perdemos ali para sempre .Nunca mais nos vimos e quando soube dele há pouco, a notícia era de que ele partira...Apaguei, na hora, inconscientemente a notícia, porque me incomodou e ela voltou -agora-viva e contundente, sob acordes de melodia e letra de um sucesso de ontem.

Poderia ter-lhe perguntado , pelo menos, se ele estava feliz.O que fazia. Se os seus sonhos tinham,alguns deles,se concretizado...Não o fiz. Será que ele teria gostado de ter-me dito algo também? Nunca vou saber...Ficaram apenas um aceno e um silencioso sorriso.

Na verdade,  achamo-nos imortais e deixamos sempre que passem grandes oportunidades de pequenos atos cotidianos. Uma palavra,talvez um abraço, um carinho...Que pena!

É ,foi isso ,amigo. Assim você voltou para mim, hoje.Em notas musicais.E foi bom...e foi bonito, mesmo dolorido.

Quem sabe você não está por aí, ouvindo a mesma música? Quem sabe...

...até um dia!

Valinhos , 19 de junho de 2003.

Não...dessa vez o texto não estava em uma agenda, e sim em um papel cuidadosamente dobrado em uma caixa de fotos antigas, daquelas que transpiram saudades.De quantas dessas preciosidades minha vida é feita? Inúmeras. Raízes...é isso.Preciso delas para viver.

3 comentários:

  1. Tudo é mistério...Nada do que vemos é real.Neste mundo de sombras não sabemos se os amigos partiram. Pensamos que se foram, mas talvez sejamos nós que nos esvaímos todos os dias como um balde despejado.Acredito na luz dum outro lado que não este. Sinto a mão da minha mãe aquecer-me as lágrimas do outro lado. O seu amigo é que quis que você pensasse nele.Será? Tudo é mistério...
    Ibel

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  2. Oi Gizelda! Texto lindo!
    A saudade tem som, cheiro e sabor. Tem momentos que só dela podemos nos alimentar através das lembranças... É uma história triste, mas deixa uma grande lição... A vida é breve e não podemos deixar os momentos passarem, na ilusão de podermos revivê-los a qualquer instante!
    Carpe Diem! Bjusss

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  3. Poetas...
    Quem seriam esses seres
    Que muitas vezes discriminados
    Atacados por aqueles que se acham maiorais,
    " os tais",
    São feridos por pura incompreensão?

    Ferem porque não entendem,
    Que os poetas,
    São pássaros imaginários
    De asas invisíveis,
    Que voam ao sabor da magia
    Vão alem da imaginação...

    Poetas...
    São rios que brotam
    Das fontes infindas da emoção,
    Correndo borbulhantes pelo leito da vida
    Na ânsia de encontrar o mar,
    Onde sonham desaguar
    O Amor que lhes ultrapassam,
    As bordas do coração...

    Poetas...
    São o sangrar gotejante
    Das dores próprias, e dos seus semelhantes...
    São o grito desesperado da natureza
    Devassada pelas mãos impiedosas dos homens...
    Nuvens cinzas lhes sufocam a alma
    Escurecendo-lhes a visão...
    Mas encontram na inspiração
    O raiar de um novo Sol,
    E na arte de criar,
    Espalham com suas letras
    Alegria, fonte viva da renovação..

    Poetas...
    São anjos de Deus
    Por Ele emprestados à terra
    Para sensibilizarem os corações
    Dos que só pensam em armas
    Bombas e destruição...
    Poetas, são seres sensitivos
    Que sentem e reconhecem em Deus,
    O poder de toda a criação...

    Parabéns pelo seu dia amada amiga poetisa!!!

    Abraços de flor

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