terça-feira, 7 de setembro de 2010

As roupas da minha vida.


Dentro de um caixote ou dentro de um móvel de ébano precioso vou pôr a guardar as vestes da minha vida.
As roupas azuis.
E depois as vermelhas, as mais belas de todas.
E a seguir as amarelas.
E por fim de novo as azuis, mas muito mais desbotadas estas últimas do que as primeiras.
Vou guardá-las devotamente e com muita tristeza.

Quando vestir as roupas negras e quando morar dentro de uma casa negra, dentro de um quarto escuro, abrirei de vez em quando o móvel com alegria, com desejo e com desespero.
Verei as roupas e lembrar-me-ei da grande festa - que será nesse momento de todo finda.
Os móveis espalhados desordenadamente dentro das salas.
Pratos e copos partidos no chão.
Todas as velas gastas até ao fim.
Todo o vinho bebido.
Todos os convidados idos.
Cansados alguns estarão completamente sozinhos, como eu, dentro de casas escuras - outros mais cansados terão ido dormir.



Konstandinos Kavafis, in Vestes

A nossa vida se multiplica em mil outras vidas, bem ou mal vividas, não importa.As cores que elas têm são aquelas que lhes damos pelo entusiasmo ou pela tristeza com que as preenchemos.

Quando " a festa acabar", quero que a roupa guardada da minha vida seja amarela e intensa. Não quero guardar uma roupa branca e translúcida...

Você sabe de que cor é a roupa de sua vida?

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4 comentários:

  1. a roupa da minha vida era o branco, quando ainda menina sonhava com o dia alvo...
    Depois andei anos e anos de preto e não comprava outras cores. Hoje a minha cor preferida é o azul, o azul, sem dúvidas.Porquê?
    Há tanto mar e amar, Gizelda!!!!

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  2. Tem toda razão, Ibel...

    Além do mar, amar, há o infinito, que dizem ser incolor, mas quem se importa? Quando olhamos para o céu ele é muito azul.

    Beijos

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  3. Gizelda,
    Já aqui vim várias vezes, mas nunca cheguei a comentar porque há certos lugares onde gosto de estar sem sentir a pressão do tempo - ah, o tempo, sempre o tempo!, será que as roupas que ele veste têm cor? - de fruir o que me rodeia...
    Nunca pensei a minha vida em termos de cores, mas vou, de alguma forma, tentar responder. Sempre me atraiu o azul do céu e do mar, o verde dos pinheiros, o verdecinzentoacastanhado da montanha... Mas, no meu interior, a tela onde se reflectem as tonalidades vai mudando. E talvez, a pouco e pouco, se vá instalando um tom de beije velho, à procura (ainda e sempre) do interruptor que dê acesso à luz que ofusque as cores...
    Espero que o meu contributo não seja demasiado matizado. :)

    Beijo :)

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  4. Claro que não AC...quem vê a vida em um caleidoscópio, só pode tê-la multicolorida.

    Eu nunca havia pensado na possíbilidade de gerenciar a luz com um interruptor,mas essa ideia me atrai muito...

    O tempo deve vestir-se de azul,acho!

    beijos. Obrigada.

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