sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Cansaço.
O que há em mim é sobretudo cansaço - Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A sutileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto em alguém, Essas coisas todas - Essas e o que falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimno, íssimo, íssimo, Cansaço...
(Álvaro de Campos/Fernando Pessoa)
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Querida Gizelda
ResponderExcluirpor favor, não se importe que eu diga, humildemente, que me encaixo perfeitamente no texto - aliás, "o" texto.
"Cansaço, (...) por (...), Essas coisas todas (...)".
Beijão.
É isso, João...
ResponderExcluirtambém me sinto assim.Cansaço de tudo e de nada.
E FP dispensa comentários.Ele se destruiu,mas construiu uma obra irrepreensível.
bjs.bom fim de semana