quarta-feira, 27 de maio de 2009
Miura (excerto)
Gritos da multidão.
Que papel ia representar? Que se pedia ao seu ódio?
Hesitante, um tipo magro, doirado,entrou no redondel. Olhou-o a frio. Que força traria no rosto mirrado, nas mãos amarelas para se atrever assim a transpor a barreira?(...)
Mas o homem que visou, que atacou de frente, cheio de lealdade, inesperadamente transfigurou-se na confusão de uma nuvem vermelha...(...)
Avançou...Deu, como sempre na miragem enganadora.Iludido, outra vez. Parou. Não acabaria aquele martírio?(...)
Quando chegaria ao fim semelhante tormento?(...)
Quê! Pois poderia morrer ali, no próprio sítio de sua humilhação??! Os homens tinham dessas generosidades?!(...)
Calmamente, num domínio perfeito de si, Miura fitou a lâmina por inteira. Depois, numa arremetida que parecia ainda de luta e era de submissão, entregou o pescoço vencido ao alívio daquele gume.
És, pois,dono como eu deste livro, e, ao cumprimentar-te à entrada dele, nem pretendo sugerir-te que o leias com a luz da imaginação acesa, nem atrair o teu olhar para a penumbra da sua simbologia.Isso não é comigo,porque nenhuma árvore explica seus frutos, embora goste que lhos comam.
( Miguel Torga -Bichos )
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário