quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Nó.



Estou perdidamente emaranhada
em seus fios de delícias e doçuras.
Já não encontro o começo da meada,
não sei nem mesmo
se há uma ponta de saída,
ou se a loucura
vai num ritmo crescente
até subjugar a minha vida.
Não importa.
Quero seus nós de seda
cada vez mais cegos e apertados
a me costurar nas malhas e nos pêlos.
Enquanto você me amarra,
permanece atado
na própria trama redonda do novelo.

Amor a céu aberto, Editora Nova Fronteira, 1992
Flora Figueiredo

Na trama da vida somos nó,não sabemos onde tudo começa, nem como vai acabar.Ou onde.
O difícil é desatar das crenças, convicções , expectativas que nos enovelam e deslizar vagarosa e levemente até o fim.
Mas, como?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Inteira, talvez, na primavera...

Depois de um recolhimento necessário - de vida, de criatividade, de sonhos, de expectativas-tento renascer no fim de Agosto,poeirento,  tarde de céu sujo e sol esmaecido.

Sou refém de um tempo sem volta -uma seleção musical ao acaso. Notas esparsas  me trazem de volta a mim.

Pessoas da minha vida desfilam diante dos meus olhos com tal clareza que - quase - posso tocá-las, mas ilusoriamente são imagens fugidias do que já não há. O ciclo se renova.

Sensação de flutuar , como se me fosse possível voltar...mesmo sabendo que não. Na verdade, não quero voltar. O recomeçar é por outros caminhos não  tão íngremes. Respiro alívio e constatação de que o porvir será o que eu fizer dele. Estou  aberta ao que já veio e ao que virá.

Sutilmente presentes atalhos percebidos, alguns não trilhados. Esboços de perguntas que continuarão sem respostas...Inquietude( parte essencial  do que sou e quero ser).

 As notas musicais insistem em permanecer mesmo depois de findas ,com sabor adocicado de algo sem retorno, onde tênues lembranças deixam sulcos profundos. E nem posso dizer se foi bom. Não sei.

Sei ,apenas, que mais uma vez me renovo, fortalecida,olhando para fora e vendo alem. O infinito está à espreita. Preciso aprender a usá-lo.

Solilóquio...Presença  fragmentada de um começo de mim...

Onde há aves, fatalmente vai haver o voo.

Inteira, talvez, na primavera.