domingo, 14 de dezembro de 2008

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chega um dia em que já não importa que tudo fique assim. num alpendre de cal sobre uma ravina. por um transtorno do pensamento. tonto. tanto. de tanto que se pensa. e não se diz. e não se faz. monólogos em círculos rápidos. incisivos. espasmódicos. e a invisibilidade das brechas. quando o pensamento não acompanha o passo. o pensamento largo e o passo curto. o espaço entre. a distância volúvel na travessia do medo. a percepção do outro em dimensões absurdas. como se alguém pudesse ser asa plana. ou luz própria de um clarão definitivo. o desacerto a ser só uma breve pausa no cume da respiração. tão imperceptível que só o ar a sustenta. enquanto se força a compreensão e derrete o gelo. e depois a vida. exposta a três dimensões. e eu plana e líquida. a encolher-me para me descolar. mas a vida é uma ravina onde escorrego e me desminto. e assim me adentro como personagem de um filme dramático. ainda tento a reconstituição de um deslumbre. as pequenas e as grandes cenas. nesta minha propensão para desfazer brumas e conspirar cenários. depois subtraio-me à ilusão e fico-me pelo movimento lentíssimo que desenha o dia a preto e branco.
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Lindíssimo ...Maria José Quintela.

2 comentários:

  1. Gizelda,
    Gostei muito do seu blog pelo pouco que vi. Quando tiver mais tempo, coisa que este vestibular de fato não me permite, terei o maior prazer em ler suas postagens anteriores.
    E aqui fica registrado também o prazer de estar indo nas suas aulas. Eu, o Ivan e o Marcus ficamos muito contentes de poder ter esse prazer. Quem sabe, um dia, possa eu ter esse conhecimento tão humano que você tem. Vontade e sede de aprender e conhecer tenho de sobra - felizmente.
    Muito obrigado pela sua disponibilidade, Gizelda, e espero que você continue na torcida por mim.
    Um beijo.
    Caio

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  2. Aqui vão algumas palavras do nosso Saramago, sempre feliz em tudo o que escreve!

    Vivo, vivíssimo
    Novembro 18, 2008 by José Saramago

    Intento ser, à minha maneira, um estóico prático, mas a indiferença como condição de felicidade nunca teve lugar na minha vida, e se é certo que procuro obstinadamente o sossego do espírito, certo é também que não me libertei nem pretendo libertar-me das paixões. Trato de habituar-me sem excessivo dramatismo à ideia de que o corpo não só é finível, como de certo modo é já, em cada momento, finito. Que importância tem isso, porém, se cada gesto, cada palavra, cada emoção são capazes de negar, também em cada momento, essa finitude? Em verdade, sinto-me vivo, vivíssimo, quando, por uma razão ou por outra, tenho de falar da morte…

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