Amo os ipês.
Plantei um ipê na rua, em frente do meu escritório. Já está com quase 2 metros de altura e já mostrou umas poucas flores amarelas. Mas, como toda árvore, como todo ser vivo, ele quer espaço. Os seus galhos crescem para os lados, para a rua, para a calçada. Mas a calçada é larga. É só desviar deles e desejar-lhes um bom dia. Pois, dias atrás, quatro dos seus galhos que se estendiam pela calçada amanheceram quebrados. Foi como se meus próprios braços tivessem sido quebrados. Fiquei pensando na alma da pessoa que fez aquilo.
Que estranho prazer esse, de quebrar os galhos de uma árvore mansa! São sentimentos de um torturador. Alguém que tem prazer em quebrar galhos de uma árvore, sem necessidade, terá prazer também em fazer sofrer um animal ou uma pessoa. Ao sentimento inicial de raiva seguiu-se um outro de profunda piedade: que deserto horrível e seco deve ser a sua alma. Sua alma tem medo dos ipês porque nela só há desertos. Horrorizamo-nos com os criminosos. Milhares há que gostariam de juntar-se a eles. Se não o fazem é por falta de coragem. Contentam-se em quebrar galhos de ipês...Rubem Alves.
Também amo ipês. Tanto que plantei dois, não apenas um, e esperei dez anos que eles dessem flores. Uma alegria que justificou a espera. Mas, a vida se incumbe de nos fazer dobrar esquinas e deixar amores físicos e imateriais, mesmo que não queiramos.
Assim, quero acreditar- preciso!- que meus ipês continuam lá , majestosos, iluminando a rua e a alma de quem sabe vê-los.