terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Morremos todos os dias.



"Quando morremos? Na verdade, morremos todos os dias. Morte são também nossas decepções, nossos projetos falidos, nossas ideias abortadas. Morte é tudo o que nega a vida. A morte definitiva, a que encerra todos os atos, a que nos apresenta a vida concluída, dessa não podemos tratar porque ela nos excede. Restam-nos os insucessos que a anunciam, neles acenam os signos do que não nos é dado alcançar. Esperamos e conjeturamos. Como poderíamos, de outro modo, elevar-nos acima da solidez dos corpos que nos cercam, assinalando-lhes a precariedade?"
(SCHÜLER)


"Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida."
(EPICURO).

Um comentário:

  1. Duas perspectivas sobre a morte que você, amiga, muito oportunamente, soube por em confronto. Não vou comentar cada uma delas. Para quem propunha o prazer moderado como soberano bem; para quem a estabilidade desse prazer leva à ausência de dor (ataraxia); para quem ensinava o caminho para a sabedoria, como poderia a morte lhe interessar? Para Epicuro, morrer é atingir o não-ser, não é nada. O medo de morrer nos impede de gozar o prazer da vida, que é um bem, o maior deles.

    Talvez, muitos dentre nós, hoje se sintam desconfortáveis com a proposta epicurista; afinal, como não se preocupar com a morte? Se a morte é realmente o retorno ao não-ser, se não é verdadeira a promessa cristã de uma vida eterna, que sentido há em viver? Tendo a crer que o sentido da vida não pode estar numa relação de dependência com a esperança de uma vida pós-morte... Entendo que é possível e necessário construir um sentido para vida, mas um sentido imanente à vida, e não transcendente.... No viver cotidiano, que é a vida experienciada imediatamente, o sentido se expressa em forma de objetivos, metas, atividades, desejos... Como bem nota Schüller, há sempre os insucessos, os fracassos, mas eles não sinalizam a falta de sentido, ao contrário, revelam que demos um sentido...

    Recentemente, perdi duas avós e um avô. Todos morreram conservando a esperança numa vida pós-morte, mais minhas avós que meu avô, que pouco falava sobre fé. Um de minhas avós perdera um filho, com 33 anos e com ele o ânimo de viver... Não sei se ela o reencontrou, não sei se ela descobriu alguma Verdade que está oculta aos vivos... Receio, no entanto, que, havendo alguma forma de existência pós-morte, ela tenha se decepcionado... porque esperava conhecer face a face o Deus do cristianismo... (que uma vez levado a sério, compreendido, revela-se a maior farsa da história humana). Para mim, o Absoluto continua incognoscível e essa ignorância não me perturba; nosso conhecimento sobre o Universo é ainda limitado... Não podemos tirar a razão de Epicuro: o medo da morte nos impede de viver a única vida que conhecemos e que seja a morte o nada absoluto, o fim a que todo ser vivo está destinado desde que nasceu; afinal, quando morrermos, isso deixará de ser um problema; a dor da morte só quem sente são os vivos; os mortos nada sentem, nada sabem, nada mais esperam. A sabedoria de Epicuro consiste em aprender a morrer e isso o aproxima um pouco de Schüller, assim me parece.

    Beijos, querida amiga!

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