segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Secretamente, entre a sombra e a alma,te amo.



"A Dança" 


Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio

Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.


Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,

Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


Antes de amar-te, amor, nada era meu:

Vacilei pelas ruas e as coisas.
Nada contava nem tinha nome.
O mundo era do ar que esperava
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo.
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio.
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.


 Pablo Neruda



Nem a morte leva de nós a emoção de receber versos assim. 
Neruda, grandioso. Um homem que viveu intensamente, arriscou tudo o que podia em todas as direções e soube falar de amor como poucos conseguem. 

Um comentário:

  1. isso, mesmo querida Gizelda. bem escolhido o poema.mas podia ser qualquer outro porque ele escreveu belíssimos poemas de amor.
    beijosssss

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