domingo, 19 de agosto de 2012

A dor que não sabemos curar.

                           


De cara lavada.
hoje me desfiz dos meus bens

vendi o sofá cujo tecido desenhei

e a mesa de jantar onde fizemos planos


o quadro que fica atrás do bar
rifei junto com algumas quinquilharias
da época em que nos juntamos

a tevê e o aparelho de som
foram adquiridos pela vizinha
testemunha do quanto erramos

a cama doei para um asilo
sem olhar pra trás e lembrar
do que ali inventamos

aquele cinzeiro de cobre
foi de brinde com os cristais
e as plantas que não regamos

coube tudo num caminhão de mudança
até a dor que não soubemos curar
mas que um dia vamos



Martha Medeiros




Os sinais de uma relação destruída permanecem nas coisas e reificam a alma da gente.Cada objeto tem uma história e ela se transforma em sombra.Até que , um dia, você se livrou de tudo - quase - e ao abrir um livro antigo, dentro dele encontra pétalas secas de uma flor testemunha.Alí estão os sinais tênues , mas definitivos. Percebe-se, então, que estamos de casa nova , porém a alma continua dolorida.Simplesmente, dói, muito além do fantasma de uma casa desmanchada.

2 comentários:

  1. As vezes é preciso nos desfazer de coisas que nos marcaram para começar algo novo que nos dê mais alegrias...
    Linda postagem. Fica aqui meu abraço e carinho!!!

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  2. Que dizer?
    A Gizelda tem o dom da pertinência, de pôr sempre o dedo na ferida.


    Beijo :)

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