sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Voltar prá casa....


Desde sempre , acostumei-me a gerenciar minha vida, mesmo que a prioridade não fosse eu.
Escolhas difíceis  cujas consequências não foram as esperadas aconteceram, mas não foram regra.  Não obstante"virar a mesa"  e recomeçar sempre me aconteceu

.Claro que, premida por circunstâncias incontornáveis,cedi algumas - muitas- vezes,sempre com a incômoda sensação de estar inadequada e transitória naquele momento e naquele lugar.Assim como uma peça do quebra-cabeças, a definitiva,que  não se encaixasse por estar na moldura incorreta.

Viver isso sempre foi, literalmente,um inferno, mas sempre se podia voltar prá casa. Casa, o que é casa?Um belo apartamento? Um amontoado de tijolos que enfeita uma esquina? o quê?

Ainda agora, sentada na minha sala, sinto uma vontade infinita de voltar prá casa.E não a tenho mais.

Casa , a nossa, é onde estão nossos pais, nossos avós, nossa raiz.Nós construímos casas para nossos filhos que vem e vão ao sabor da vida.Somos a casa deles.Mas a nossa casa é outra.É onde fomos queridos, amados, desejados, sempre.

Quando nossos pais se vão, desmancha-se a nossa casa. Temos um domicílio,um endereço,uma paragem,mas nunca mais poderemos voltar prá nossa casa....

Uma lua cheia inacreditável banha as largas portas de vidro.Doura muitos e muito outros domicílios de pessoas que, como eu, sabem , dolorosamente, que não podem mais voltar prá casa...

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Uma árvore, uma galinha, uma estrela. Quando foi que tudo sumiu ou virou ridículo?



VAMOS REORDENAR AS PRIORIDADES...

Sou uma pessoa comum. Fui criado com princípios morais comuns.

Quando criança, ladrões tinham a aparência de ladrões e nossa única preocupação em relação a segurança era a de que os "lanterninhas" dos cinemas nos expulsassem devido as batidas com os pés no chão quando uma determinada musica era tocada no início dos filmes, nas matinês de domingo.

Mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades presumidas, dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos, e/ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder deseducadamente a policiais, mestres, idosos, autoridades. Confiávamos nos adultos porque todos eram pais/mães das crianças da rua, do bairro, da cidade.Tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror.

Ouvindo hoje o jornal da noite, deu-me uma tristeza infinita por tudo que perdemos. Por tudo o que meu filho precisa temer. Pelo medo no olhar de crianças, jovens, velhos e adultos. Matar os pais, os avós, violentar crianças, sequestrar jovens, roubar, enganar, passar a perna, tudo virou banalidades de noticias policiais, esquecidas após o primeiro intervalo .

Agentes de trânsito multando infratores são exploradores, funcionários de industrias de multas. Policiais em blitz são abuso de autoridade.Regalias em presídios são matéria votada em reuniões. Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos.

Não levar vantagem e ser otário. Pagar dívidas em dia e bancar o bobo, anistia para os caloteiros de plantão. Ladrões de terno e gravata, assassinos com cara de anjo, pedófilos de cabelos brancos.

O que aconteceu conosco? Professores surrados em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas portas e janelas.

Crianças morrendo de fome, gente com fome de morte.

Que valores são esses? Carros que valem mais que abraço, filhos querendo-os como brindes por passar de ano. Celulares nas mochilas dos que recém largaram as fraldas. TV, DVD, telefone, vídeo game, o que vai querer em troca desse amasso, meu filho? Mais vale um Armani do que um diploma. Mais vale um telão do que um papo. Mais vale um baseado do que um sorvete. Mais valem dois vinténs do que um gosto.

Que lares são esses? Bom dia, boa noite, até mais. Jovens ausentes, pais ausentes, droga presente e o presente uma droga. O que é aquilo?

Uma árvore, uma galinha, uma estrela. Quando foi que tudo sumiu ou virou ridículo? Quando foi que senti amor pela última vez? Quando foi que esqueci o nome do meu vizinho? Quando foi que olhei nos olhos de quem me pede roupa, comida, calçado sem sentir medo? Quando foi que fechei a janela do meu carro? Quando foi que me fechei?

Quero de volta a minha dignidade, a minha paz e o lugar onde o bem e o mal
são contrários, onde o mocinho luta com o bandido e o único medo e de quem
infringe, de quem rouba e mata. Quero de volta a lei e a ordem.

Quero liberdade com segurança. Quero tirar as grades da minha janela para tocar as flores. Quero sentar na calçada, e minha porta aberta nas noites de verão. Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olho no olho.

Quero a vergonha, a solidariedade e a certeza do futuro. Quero a esperança,a alegria. Eu quero ser gente e não peça de um jogo manipulado por TV a cabo.

Eu quero a noticia boa, a descoberta da vacina, a plantação do arroz. Eu quero ver os colonos na terra, as crianças no colégio, os jovens divertindo-se, os velhinhos contando historias. Eu quero um emprego decente, um salário condizente, uma oportunidade a mais. Uma casa para todos, comida na mesa, saúde a mil.

Quero livros e cachorros e sapatos e água limpa. Não quero listas de animais em extinção. Não quero clone de gente, quero cópia das letras de música.

Eu quero voltar a ser feliz!
Quero dizer basta a esta inversão de valores e ideais.
Quero mandar calar a boca quem diz "a nível de", "neste país", "enquanto pessoa", "eles tem que", "é preciso que".

Quero xingar quem joga lixo na rua, quem fura a fila, quem rouba um lápis, quem ultrapassa a faixa, quem não usa cinto, quem não paga a conta, quem não dignifica meu voto.

Quero rir de quem acha que precisa de silicone, implante, conta no banco, carro importado, laptop, bolsa XYZ, calca ZYX para se sentir inserido no contexto ou ser "normal".

Abaixo a ditadura do "tem que", as receitas de bolo para viver melhor, as técnicas para pensar, falar, sentir! Abaixo o especialista, o sabe-tudo rodeado de microfones e câmeras!

Abaixo o "ter", viva o "ser"!

E viva o retorno da verdadeira vida, simples como uma gota de chuva, limpa como um céu de abril, leve como a brisa da manhã!

E definitivamente comum, como eu.
.



Não tenho a mínima noção de quem seja autor, ,mas o texto foi, casualmente, encontrado na WEB,sob múltipla autoria. Confesso que fiquei tocada por ele.  Á medida em que o li, fui subscrevendo o texto. Creio que a maioria de nós sente-se assim , aviltada e ludibriada por valores invertidos com os quais convivemos oprimidos no cotidiano.Como bois no matadouro, damos a cabeça a prêmio e a fila segue interminável.No entanto, palavras são apenas palavras , enquanto não se concretizam em ações. Querer não é poder...o ditado é ilusório.O poder está em ações que não realizamos. Mea culpa.

Seja lá quem o escreveu, é um "senhor" desabafo!Valeu para quem o escreveu, valeu para mim e pode valer para você!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O amor reparte, mas sobretudo acrescenta.



A fruta aberta

Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.


Agora sei as coisas como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.


Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com  tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.


Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.



Sobrevoando a Cordilheira dos Andes, 1962)
Thiago de Mello

sábado, 25 de agosto de 2012

Quanto tempo dura o "eterno"?





Alice: Quanto tempo dura o eterno?

Coelho: Às vezes apenas um segundo.

(Alice no País das Maravilhas)



INSTANTES
Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido;
na verdade, bem poucas pessoas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida:
só de momentos – não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas;
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo.


Atribuído a Jorge Luís Borges



Você já pensou em como " gasta" sua vida? Não? Então pode começar a pensar nisso agora.Se quiser, claro.
Tente substituir eternidade por efemeridade e vai perceber que - de repente - você está comemorando mais um aniversário: há festa, bebidas , alegria ruidosa , mas , no fundinho mesmo, você já " gastou" mais um ano dos quantos lhe resta.
Não quer pensar nisso? Prá quê ? Bem, a escolha é de cada um, mas...
talvez, devêssemos...porque teríamos outros valores e poderíamos usufruir mais e melhor desse presente chamado "Vida".

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Como é alma de alguém que mata um ipê?



Embora todos desejem finais felizes para suas histórias, nem sempre eles acontecem.Alguns porque escapam do nosso controle, outros porque estão nas mãos e nas atitudes de outros , sem sensibilidade , sem respeito, sem amor,enfim..
...de qualquer maneira não importa o porquê,importa o que resultou.Assim, essa é uma história absolutamente real com um final bastante triste.

Em 03/10/2009 ,publiquei aqui o texto abaixo :

Hoje recebi um inusitado presente ( adiantado) pelo dia do professor. Um envelopinho pardo trazia bem guardada uma...sementinha de ipê amarelo!
Não me lembro de haver recebido antes algo tão simbólico e tão bonito.

Voltei no tempo para me lembrar de que sempre tive uma atração irresistível por cores brilhantes e vivas, mas o amarelo , ah...minha alma sempre foi amarela!

Há quase 20 anos atrás, ao construir minha primeira ( e única) casa, plantei dois ipês amarelos no gramado das calçadas e esperei ansiosamente que me trouxessem flores, as quais vieram só dez anos depois.

A partir de então, esperar as floradas em agosto/setembro tornou-se ritual.E rezar para que os pardais não bicassem todos os botões...

Quando as flores vinham, minha cozinha resplandecia de amarelo, dourada, iluminada, feliz.! Aliás, nem havia como ser diferente com todo aquele brilho ,ficávamos contaminados por aquela exuberância e beleza. Uma dádiva, sem dúvida.

Quanto tempo passei mergulhada em manhãs perfumadas e silenciosas repletas daquele encanto!

Mas, a beleza é transitória e qualquer ventinho derrubava uma multidão de flores que coalhavam o corredor e o gramado.E que pena vê-las escurecer...Ficava, no entanto, a certeza de que viria outro ano e os meus ipês se guardariam até lá.
E voltariam pra mim, lindos e majestosos...

Porém,a vida se processa em ciclos. A casa foi vendida há três anos atrás. As lembranças guardadas por ela ali permaneceram, tristes e /ou alegres como em qualquer história. Ao fechar a porta da casa pela última vez não olhei para os meus ipês, porque não saberia como me despedir deles. Abandoná-los parecia uma traição.E era.

Nesses anos, sempre que vi, em qualquer lugar , tais árvores floridas, pensei nas “ minhas” flores, encantando outros olhos , outras pessoas... E senti dor e ciúme. O coração pesado, de chumbo .Ainda sinto.

Hoje , a sementinha me trouxe uma mensagem . Será que eu conseguirei ouvi-la? Guimarães Rosa diz só as pessoas disponíveis conseguem receber “ recados da natureza” e entender a magia da vida.Não sei se merecerei tanto, mas espero conseguir ouvi-lo.

Minha alma tem certeza de que nessa semente há um recado para mim. Tomara que eu tenha sensibilidade suficiente para entendê-lo...e coragem para tomar atitudes.

Gizelda/ transbordando de amarelo.


Em 15/02/2010 tive o prazer de transcrever, também aqui,o excerto de uma belíssima crônica do Rubem Alves.

Amo os ipês. 
Plantei um ipê na rua, em frente do meu escritório. Já está com quase 2 metros de altura e já mostrou umas poucas flores amarelas. Mas, como toda árvore, como todo ser vivo, ele quer espaço. Os seus galhos crescem para os lados, para a rua, para a calçada. Mas a calçada é larga. É só desviar deles e desejar-lhes um bom dia. Pois, dias atrás, quatro dos seus galhos que se estendiam pela calçada amanheceram quebrados. Foi como se meus próprios braços tivessem sido quebrados. Fiquei pensando na alma da pessoa que fez aquilo. 

Que estranho prazer esse, de quebrar os galhos de uma árvore mansa! São sentimentos de um torturador. Alguém que tem prazer em quebrar galhos de uma árvore, sem necessidade, terá prazer também em fazer sofrer um animal ou uma pessoa. Ao sentimento inicial de raiva seguiu-se um outro de profunda piedade: que deserto horrível e seco deve ser a sua alma. Sua alma tem medo dos ipês porque nela só há desertos. Horrorizamo-nos com os criminosos. Milhares há que gostariam de juntar-se a eles. Se não o fazem é por falta de coragem. Contentam-se em quebrar galhos de ipês...

Rubem Alves.

Também amo ipês. Tanto que plantei dois, não apenas um, e esperei dez anos que eles dessem flores. Uma alegria que justificou a espera. Mas, a vida se incumbe de nos fazer dobrar esquinas e deixar amores físicos e imateriais, mesmo que não queiramos.
Assim, quero acreditar- preciso!- que meus ipês continuam lá , majestosos, iluminando a rua e a alma de quem sabe vê-los.
15.02.2010

Ontem, depois de me extasiar com dezenas de ipês escandalosamente floridos, amarelos de doer a vista, por todos os lugares nos quais passava,resolvi rever os "meus" que não eram mais meus.
 E surpresa! Terror! Estavam mortos.
Os galhos negros, secos , retorcidos, na lateral da minha antiga casa , jaziam quebrados no chão.Na garagem uma belíssima e cara pickup importada e na calçada um matagal destruindo os últimos resquícios das flores e das árvores ali tão carinhosamente cultivadas.Como é que isso acontece?
Ipês são flores que brotam no mato e vivem ali ,enfeitando a nossa vida, sem que seja preciso cuidados especiais.Como e por que esses ipês morreram?
Estou absolutamente inconformada.Reli os textos acima publicados e me pergunto se, diante dos sinais recebidos, eu não deveria ter feito algo.  Mas o quê?
Não sei quanto de culpa tenho nisso, embora, sim, esteja me sentindo culpada.
Estou me sentindo mutilada , porque essas duas árvores alimentaram muitos anos da minha vida com sua beleza colorida e silenciosa.
E então me pergunto já sabendo a resposta :

Volto a Rubem Alves : como é alma de alguém que mata ipês?

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Fim.

                                      
7.41hs .Chove
O silêncio da casa me incomoda.Os pardais no muro e os ipês mostram que a vida continua.E eu tenho medo...
Não quero chorar, mas ao olhar para a mesa vejo a chícara com um resto de café, o último de 24 anos.

Chovia mais forte , quando, ainda pela última vez, ouvi o barulho do alumínio na cozinha, o cheirinho adocicado do café na madrugada e ,com o coração aos pulos, me fiz a inevitável pergunta: estarei certa? 24 anos de vida em comum terminam como? Chora-se?Lamenta-se? Tenta-se fingir que nada está acontecendo e despede-se como gente civilizada?


 Simplesmente acabou.É apenas fim.Tudo acaba.

Chove.É preciso escrever para colocar para fora a sensação de fracasso e tristeza.Na mesa ao meu lado uma malha esquecida, contas atrasadas( a única herança...)duas crianças dormindo,cães no tapete, e uma certeza : é preciso ter coragem e recomeçar.Mas como é que se recomeça?

E enquanto tento inutilmente unir o começo e o fim...ah! de onde vem esse perfume?Busco à minha volta. Ficou também uma camisa usada , misto de colônia e suor da noite quente.

O que foi que aconteceu? Qualidades?...Defeitos?(como os meus).Não. Mentiras. Mentiras que se amontoaram como tijolos mal colocados e ruiram, afinal.Não há vida em comum que sobreviva a elas. É preciso admirar alguém para amá-lo.Quando essa admiração se esvai, sobra nada.


Éramos quatro. Agora, somos três, cheios de expectativa, de vazio , de medo e...esperança.

O que devo fazer dessa manhã? São 8,04hs. Clareou, mas o dia permanece acinzentado.Cor de nada.Não posso lavar a alma enlameada, mas posso lavar o rosto e tirar o vestígio das lágrimas.É hora de reconstrução.Por cima da dor.

E reconstrução nada tem de poesia.É sólida e real, tem nome de saldo bancário, de sobrevivência, de pé-no-chão.Não há tempo, nem lugar, para lágrimas.Tenho que buscar o que sobrou de vida, encontrar as crianças, para juntas alçarmos voo.Para onde?
Não importa desde que voemos juntas.Quem sabe para o alto e para o azul.

Ah! Guimarães Rosa , estou precisando de você! " Ás vezes , o mundo parece demais de grande; outras vezes é pequenininho demais. A gente deve de esperar o terceiro pensamento".

Tenho que encontrar o terceiro pensamento!Tenho!

Vou me levantar daqui e arrumar a casa, recolher os restos de algo que já passou.Tenho que fazer, sobretudo, essa limpeza dentro de mim.

8,17hs. Parou de chover(lá fora).


19 de janeiro de 1996.


(Hoje,16 anos depois,leitora e personagem,percebo como esse texto foi escrito a ferro e fogo na minha história.E naquela hora, escrever foi minha única saída.Uma ferida que o tempo cicatrizou, mas que continua a ser uma página triste da minha agenda de 96).
Finalmente livre do texto e da agenda, mas sobretudo da mágoa.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Secretamente, entre a sombra e a alma,te amo.



"A Dança" 


Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio

Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.


Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,

Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


Antes de amar-te, amor, nada era meu:

Vacilei pelas ruas e as coisas.
Nada contava nem tinha nome.
O mundo era do ar que esperava
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo.
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio.
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.


 Pablo Neruda



Nem a morte leva de nós a emoção de receber versos assim. 
Neruda, grandioso. Um homem que viveu intensamente, arriscou tudo o que podia em todas as direções e soube falar de amor como poucos conseguem. 

domingo, 19 de agosto de 2012

A dor que não sabemos curar.

                           


De cara lavada.
hoje me desfiz dos meus bens

vendi o sofá cujo tecido desenhei

e a mesa de jantar onde fizemos planos


o quadro que fica atrás do bar
rifei junto com algumas quinquilharias
da época em que nos juntamos

a tevê e o aparelho de som
foram adquiridos pela vizinha
testemunha do quanto erramos

a cama doei para um asilo
sem olhar pra trás e lembrar
do que ali inventamos

aquele cinzeiro de cobre
foi de brinde com os cristais
e as plantas que não regamos

coube tudo num caminhão de mudança
até a dor que não soubemos curar
mas que um dia vamos



Martha Medeiros




Os sinais de uma relação destruída permanecem nas coisas e reificam a alma da gente.Cada objeto tem uma história e ela se transforma em sombra.Até que , um dia, você se livrou de tudo - quase - e ao abrir um livro antigo, dentro dele encontra pétalas secas de uma flor testemunha.Alí estão os sinais tênues , mas definitivos. Percebe-se, então, que estamos de casa nova , porém a alma continua dolorida.Simplesmente, dói, muito além do fantasma de uma casa desmanchada.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Deus.


Esse texto foi postado por mim em 2009, mas senti uma necessidade premente de postá-lo de novo, e de novo, porque é isso: DEUS é tudo o que nos rodeia, mesmo quando não O queremos ver.

Os trinta e três nomes de Deus.
De vez em quando perguntam-me se acredito em Deus. Mas é claro. Acredito mais que a maioria das pessoas. Tenho até trinta e três nomes para ele. Esses nomes foi a Margueritte Yourcenar que me contou. Ela foi uma escritora maravilhosa, autora do livro Memórias de Adriano, quem lê nunca mais esquece, quer ler de novo. Pois esses são os trinta e três nomes de Deus que ela me ensinou. É só falar o nome, ver na imaginação o que o nome diz, para que a alma se encha de uma alegria que só pode ser um pedaço de Deus... Mas é preciso ler bem devagarinho...

1.Mar da manhã. 2.Barulho da fonte nos rochedos sobre as paredes de pedra. 3.Vento do mar de noite, numa ilha... 4.Abelha. 5.Vôo triangular dos cisnes. 6. Cordeirinho recém-nascido.... 7.Mugido doce da vaca, mugido selvagem do touro. 8.Mugido paciente do boi. 9. Fogo vermelho no fogão. 10.Capim. 11.Perfume do capim. 12.Passarinho no céu. 13.Terra boa... 14.Garça que esperou toda a noite, meio gelada, e que vai matar sua fome no nascer do sol. 15. Peixinho que agoniza no papo da garça. 16. Mão que entra em contato com as coisas. 17.A pele, toda a superfície do corpo 18. O olhar e tudo o que ele olha. 19.As nove portas da percepção. 20.O torso humano. 21.O som de uma viola e de uma flauta indígena. 22.Um gole de uma bebida fria ou quente. 23.Pão. 24.As flores que saem da terra na primavera. 25.Sono na cama. 26. Um cego que canta e uma criança enferma. 27. Cavalo correndo livre. 28.A cadela e os cãezinhos. 29.Sol nascente sobre um lago gelado. 30.O relâmpago silencioso. 31. O trovão que estronda. 32.O silêncio entre dois amigos. 33.A voz que vem do leste, entra pela orelha direita e ensina uma canção...”
Agradeço ao Carlos Brandão por haver me apresentado os trinta e três nomes de Deus da Margueritte. Não é preciso que sejam os seus.

Faça a sua própria lista. Eu incluiria: Ouvir a sonata Apassionata de Beethoven. Sapos coaxando no charco. O canto do sabiá. Banho de cachoeira. A tela “Mulher lendo uma carta”, de Vermeer. O sorriso de uma criança. O sorriso de um velho. Balançar num balanço tocando com o pé as folhas da árvore... Morder uma jabuticaba... Todas essas coisas são os pedaços de Deus que conheço... Sim, acredito muito em Deus


Rubem Alves.Quarto de Badulaques.

Na minha lista  eu incluiria as douradas e azuis manhãs de abril ,as noites de lua cheia, os ipês amarelos e...o simples fato de ter transcrito esse texto aqui.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

...o sofrimento não possui mais sentido que a felicidade.


O homem recusa o mundo tal como ele é, sem aceitar o eximir-se a esse mesmo mundo. Efetivamente os homens gostam do mundo e, na sua imensa maioria, não querem abandoná-lo. Longe de quererem esquecê-lo, sofrem, sempre, pelo contrário, por não poderem possuí-lo suficientemente, estranhos cidadãos do mundo que são, exilados na sua própria pátria. Exceto nos momentos fulgurantes da plenitude, toda a realidade é para eles imperfeita.

Os seus atos escapam-lhes noutros atos; voltam a julgá-los assumindo feições inesperadas; fogem, como a água de Tântalo, para um estuário ainda desconhecido. Conhecer o estuário, dominar o curso do rio, possuir enfim a vida como destino, eis a sua verdadeira nostalgia, no ponto mais fechado da sua pátria. Mas essa visão que, ao menos no conhecimento, finalmente os reconciliaria consigo próprios, não pode surgir; se tal acontecer, será nesse momento fugitivo que é a morte; tudo nela termina.
Para se ser uma vez no mundo, é preciso deixar de ser para sempre.

Neste ponto nasce essa desgraçada inveja que tantos homens sentem da vida dos outros. Apercebendo-se exteriormente dessas existências, emprestam-lhes uma coerência e uma unidade que elas não podem ter, na verdade, mas que ao observador parecem evidentes. Este não vê mais que a linha mais elevada dessas vidas, sem adquirir consciência do pormenor que as vai minando. Então fazemos arte sobre essas existências. Romanceamo-las de maneira elementar. Cada um, nesse sentido, procura fazer da sua vida uma obra de arte. Desejamos que o amor perdure e sabemos que tal não acontece; e ainda que, por milagre, ele pudesse durar uma vida inteira, seria ainda assim um amor imperfeito.

Talvez que, nesta insaciável necessidade de subsistir, nós compreendêssemos melhor o sofrimento terrestre, se o soubéssemos eterno. Parece que, por vezes, as grandes almas se sentem menos apavoradas pelo sofrimento do que pelo fato de este não durar. À falta de uma felicidade incansável, um longo sofrimento ao menos constituiria um destino. Mas não; as nossas piores torturas terão um dia de acabar. 

Certa manhã, após tantos desesperos, uma irreprimível vontade de viver virá anunciar-nos que tudo acabou e que o sofrimento não possui mais sentido do que a felicidade.

Albert Camus in O Homem Revoltado.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A primeira vez outra vez em tudo.




"Devia existir um manual de instruções para acabar relações. A verdade é que sabemos sempre começá-las, agarramo-nos aos inícios com a sabedoria dos mágicos, operámos transformações milagrosas em nós próprios e no objeto do nosso amor, de repente tudo nos é fácil e grato, sentimo-nos com asas como albatrozes, nas nossas costas cresce uma capa encarnada e carregamos no peito o símbolo do Super Homem, tudo é óbvio e santo visto assim, "o mundo não é um mundo é um jardim", como diz Florbela Espanca.
Não há nada melhor do que começar uma relação. O novo é irresistível. Descobrem-se coincidências que vão desde o mesmo nome dado ao irmão imaginário até à mesma coleção de cromos. É a primeira vez outra vez em tudo. Descobrimos o outro em nós e nós no outro. Descobrimos que afinal gostamos de futebol e sabemos cozinhar e até uma visita ao Mosteiro de Alcobaça para ver o túmulo de Pedro e Inês de Castro é muito romântico, porque foram criaturas que morreram de amor.
No inicio de todos os inícios sentimo-nos tão estupidamente felizes que seríamos capazes de morrer a seguir, porque achamos que atingimos o ponto máximo possível da felicidade.O pior vem a seguir. Como dizia o Picasso "bom mesmo é o início porque a seguir começa logo o fim". E quando o fim chega já é tarde demais para voltar atrás. É sempre tarde demais, porque isto do amor é mesmo uma coisa complicada, começa-se do nada, vive-se na ilusão que se tem tudo, mas o que fica quando o amor acaba é um nada ainda maior.
 E o pior, o pior é que na primeira oportunidade repetem-se os mesmos erros à espera de resultados diferentes, o que é uma boa definição de demência. E quem se considere imune a tais disparates e nunca tenha passado por estas avarias sentimentais, que atire a primeira pedra.O Miguel Sousa Tavares escreveu "primeiro parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que aparece onde antes estava a intimidade." 
E pronto, já está tudo estragado. Acaba-se a festa, o delírio, o fogo de artifício, o sabor da novidade e onde vamos parar? Ao vazio. Ao abismo. Ao grande buraco negro dessa coisa horrível e inevitável que se chama depois, depois de se apagar a chama. É esta a condição humana, doa a quem doer.Ou então, a ironia da vida separa os amantes para sempre e o fim do amor é o início do mito do amor eterno. Pedro e Inês foram sepultados de frente um para o outro, para que se pudessem ver, caso regressassem ao mundo. Romeu e Julieta nunca mais se separaram no imaginário Ocidental. Dante viveu para sempre ao lado de Beatriz, a Penélope recuperou o seu guerreiro depois de 20 anos de espera.
O amor esse mistério que antecede a vida e sobrevive à morte, reina como um tirano por cima de todas as coisas, mas poucos são os que o conseguem agarrar. É mais difícil de alcançar do que o Olimpo, porque não está nem no céu nem na terra, paira como uma substância invisível, mais leve que o ar, mais profundo que toda a água dos oceanos.
 Talvez seja apenas uma invenção dos homens para fugir à morte. Ou talvez tenha outro nome na bioquímica. Mas não podemos viver sem ele e quando o perdemos achamos que nunca mais o vamos conseguir encontrar."

Margarida Rebelo Pinto in Jornal de Noticias

Às vezes, a primeira vez é a última e fica na boca o gosto acre da impotência. É muito fácil cantar o poder, o difícil  é  exercê-lo.

sábado, 11 de agosto de 2012

Um sentido para a vida.



Quando Morrie estava contigo, estava mesmo contigo. Olhava para ti a direito nos olhos, e ouvia-te, como se fosses a única pessoa no mundo.
– Acredito em estar completamente presente. Isso quer dizer que devemos estar com a pessoa com quem estamos. Quando estou a falar contigo agora, Mitch, tento concentrar-me apenas naquilo que se passa entre nós. Não estou a pensar em alguma coisa que tenhamos dito na semana passada. Não estou a pensar no que vem ai na sexta-feira.
“Estou a falar contigo. Estou a pensar em ti.”
 (…) Tantas pessoas são tão absorvidas por si próprias, que os seus olhos se reviram se falarmos por mais de trinta segundos. Já têm outra coisa qualquer em mente, um amigo para telefonar, um fax para mandar. A sua atenção só acorda quando paramos de falar, altura essa em que dizem “hum, hum” ou “pois, realmente” e fingem o seu regresso ao momento.

– Parte do problema, Mitch, é que toda a gente está com muita pressa. – disse Morrie – As pessoas não encontram sentido nas suas vidas, e por isso passam o tempo a correr à sua procura. Pensam no próximo carro, na próxima casa, no próximo emprego. Depois descobrem que essas coisas são vazias, também, e continuam a correr.
Escutar alguém verdadeiramente – sem tentar vender-lhe alguma coisa, seduzi-lo, recrutá-lo, ou obter algum tipo de status em retorno – quantas vezes ainda temos disso?
(...)
"Ah, se fosse novo outra vez! Nunca ouves ninguém dizer: "Gostava de ter sessenta e cinco anos."Sorriu.
"Sabes o que isso reflecte? Vidas insatisfeitas. Vidas incompletas. Vidas que não encontraram sentido nenhum. Porque se encontrares sentido na vida, não desejas voltar atrás. Queres ir para a frente. Queres ver mais, fazer mais. Estás mortinho para chegar aos sessenta e cinco."
"Ouve, tens que saber uma coisa. Todos os jovens têm que saber uma coisa. Se estiveres sempre a batalhar contra o envelhecimento, vais ser sempre infeliz, porque isso vai acontecer de qualquer maneira."
"E, Mitch?" Baixou a voz.
"O facto é que vais mesmo acabar por morrer."



(Excerto ) - As terças com Morrie, Mitch Albom









quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Velho Tema : a busca da felicidade.



Viver feliz, meu irmão Galião, todo mundo quer, mas ninguém sabe ao certo o que torna a vida feliz; e não é fácil conseguir a felicidade, uma vez que, quanto mais ardentemente cada um a procura, se erra o caminho, mais dela se distancia; se o caminho o leva no sentido oposto, a própria velocidade aumenta a distância. Portanto, em primeiro lugar, devemos estabelecer antecipadamente o que buscamos atingir; depois, devemos examinar por onde podemos chegar lá mais rapidamente, e veremos, pelo caminho, desde que seja o certo, quanto avançamos cada dia e quanto nos aproximamos do objeto para o qual nos impele um desejo natural.

Enquanto vagarmos ao acaso, tendo por guia apenas os rumores e clamores dicordantes que nos chamam de todos os lados, nossa vida será consumida em idas e vindas e, além disso, abreviada, embora trabalhemos dia e noite para o nosso aperfeiçoamento.

Portanto, temos de decidir aonde vamos e por onde, não sem a ajuda de alguém experiente que conheça bem o caminho que pegamos, pois aqui, a situação não é a mesma que nas outras viagens: nelas há um caminho, e os habitantes que interrogamos não deixam que nos extraviemos; mas aqui, o caminho mais movimentado e mais conhecido é o que mais engana.

Sêneca in Sobre a Vida Feliz.


Se colocarmos no Google a palavra "felicidade" , é uma enormidade o número de obras e conselhos que aparecem ensinando a ser feliz. Como se houvesse uma receita mágica que, consumida,nos tornasse aptos a merecê-la ou encontrá-la.E mais: a impressão é de que podemos retê-la indefinidamente , vivendo em um nirvana para sempre- amém.
 Sêneca , antes de Cristo, já filosofava sobre a arte de ser feliz, prova inconteste de que o homem sempre foi assombrado pela  necessidade de encontrar a tal felicidade..Qual é o  grande segredo?...Ninguém o tem.

 Talvez  mais correto esteja o nosso Vicente de Carvalho em Velho Tema :


Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.



terça-feira, 7 de agosto de 2012

Mulheres.



"Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós. Pare para refletir sobre o sexto-sentido .Alguém duvida de que ele exista? E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?
E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?
E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça..."você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...O sexto-sentido não faz sentido!É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!
E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?
E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...

Tudo isso é meio mágico...Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).
As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravasam?
Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...
É choro feminino. É choro de mulher...

Já viram como as mulheres conversam com os olhos? Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar. Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar. E apontam uma terceira pessoa com outro olhar. Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos...Parece que frequentam escolas diferentes das que frequentam os homens!
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens. EN-FEI-TI-ÇAM !
E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas? Para estudar os homens, é claro !Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...
Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro". Quer evidência maior do que essa?

Qualquer um que ama se aproxima de Deus .E com as mulheres também é assim.O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor. E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo. Mas elas são anjos depois do sexo-amor .É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam. Algumas até voam .Mas os homens não sabem disso .E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora."

 Mulheres – Crônica de Luís Fernando Veríssimo 


O bom humor de  Veríssimo é, sem dúvida, parte inequívoca de seu talento. Delícia que alguém ( palavra de homem) nos veja assim, mas somos também muito más e vingativas quando a oportunidade assim o enseja.É muito mais fácil ter um inimigo do que uma inimiga...( palavra de mulher).

domingo, 5 de agosto de 2012

Há quem viveu muito e nunca viveu.



Qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na
quantidade de duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu.
Meditai sobre isso enquanto o podeis fazer, pois depende de vós, e não do número de anos,
terdes vivido bastante.


Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de
servir; nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um
mal; saber morrer nos exime de toda sujeição e coação.


 Montaigne in "Filosofar é aprender a morrer"


De “morre-se só” para “vive-se só” a conseqüência não é exata, pois se apenas a dor e a morte
forem invocadas para definir a subjetividade, então, para ela, a vida com outros e no mundo
serão impossíveis… Estamos verdadeiramente sós apenas quando não o sabemos. Essa
ignorância é a solidão… A solidão de onde emergimos para a vida intersubjetiva é apenas a
névoa de uma vida anônima e a barreira que nos separa dos outros é impalpável.


"O filósofo e sua sombra" /  Merleau-Ponty




Viver é um risco, principalmente quando se sabe- embora ninguém pense nisso - que podemos morrer em qualquer tempo.
Segundo Montaigne,saber morrer nos exime de toda sujeição e coação.Isso deveria ser o bastante, mas não é. Talvez,o que nos falte seja aceitar a morte como fato e não como probabilidade.
Mas, como se consegue  aceitar que somos o princípio e o fim? E que isso não é  filosofia, é realidade?