segunda-feira, 18 de junho de 2012

Dois anos sem Saramago, para sempre com Saramago.



Quando em uma manhã cinzenta , 18 de junho de 2010, ouvi pela primeira vez a notícia da morte de Saramago, senti um frio agudo me penetrando os ossos, ainda que houvesse calor.Era como se ele tivesse obrigação de permanecer para sempre e, de repente, saísse da vida, assim, deixando-me só. Só depois de algumas horas, dei-me conta de que ele não se iria jamais.Sim , para Pilar, talvez, mas para nós ,seus leitores e admiradores, ele estava deixando um legado de ousadia, coragem , estilo, uma obra fecunda e crítica.
Bastava abrir um livro seu e mergulhar em sua companhia.

Dois anos depois , hoje, em busca de um texto que tivesse um significado especial , encontrei na WEB, o blog http://letterbombwithoutguns.blogspot.com.br/ , no qual em 19 de Junho de 2011 foi postado :UM ANO SEM JOSÉ SARAMAGO, que transcrevo aqui com a certeza de que é uma bela homenagem.



Um ano sem José Saramago. O homem que fez a diferença em Portugal, odiado por alguns, amado por muitos. O português que conquistou o coração da Espanha, mais amado por eles do que por nós. A Espanha, esse país fisicamente tão próximo e civilizacionalmente tão distante de nós, teve a capacidade de respeitar e entender a obra de Saramago. E desengane-se quem pensa que Saramago era menos provocador lá do que cá! Saramago não tinha duas faces. Aqui, neste país infetado de velhos do Restelo, apelidavam-no de arrogante e provocador (no sentido pejorativo da palavra); lá, a escassos 150 km daqui mas noutra galáxia civilizacional, respeitavam o seu génio provocador (no melhor sentido que a palavra encerra). Saramago dividiu os Portugueses e uniu os Espanhóis que o consideravam tão seu como Camilo José Cela, privilégio apenas concedido a alguns não nacionais, em regra hispânicos, como o peruano Mario Vargas Llosa ou  o mexicano Octavio Paz. Mesmo em relação a estes, não existe o carinho devotado, e que persiste, a José Saramago. Uma áurea romântica invadiu quase por instinto o coração dos espanhóis relativamente ao severo e racional Saramago, o homem que sendo obrigado a exilar-se do seu país foi acolhido pelo enorme coração de Pilar del Rio. Saramago não se exilou de Portugal em busca de sucesso e reconhecimento. Isso fazem-no agora, sem hesitar e quase sem pensar, milhares de jovens que não se reveem neste país supostamente moribundo. Pelo contrário. Saramago exilou-se por não suportar a mesquinhez provinciana da classe política portuguesa e, ao fazê-lo, tornou-se o primeiro prisioneiro de consciência da democracia portuguesa. Nunca renegou Portugal. Amou-o até ao fim. Nas suas obras fala sempre de países hipotéticos e cenários abstratos e, se nos revemos recalcados e humilhados pelas suas obras, é porque nos encaixamos muito bem e muito tristemente nesses retratos literários. Que melhor prova de amor para com um Povo e um País do que Viagem a Portugal? Ao contrário do Povo de Portugal, que Saramago amava e tão bem entendia, porque fazia intrínseca parte dele, irritava supostos democratas, tão distantes do Portugal profundo, definitivamente burocratas, tão bem colocados na vida e barricados no discurso político supostamente correto. Todos sabemos quem eles são.
Não sei por onde vou, só sei que não vou por aí, dizia José Régio. Saramago também. E não foi. E fez muito bem. E está, em definitivo, nos memoriais deste País. E, para irritação de alguns (e, repito, todos sabemos quem são), ainda está cá. Pilar del Rio demonstrou-o ontem, um ano depois da sua morte, ao colocar as suas cinzas em frente à Fundação José Saramago. Desenganem-se senhores burocratas recalcados e génios (politicamente) vingativos, profissionais do desdém e do escárnio político! Não, Saramago não desapareceu nem será esquecido nesta terra de políticos sem Povo que o renegaram e censuraram. Não poderia subir para as estrelas, se à terra pertencia! Habituem-se à ideia senhores!

Um comentário:

  1. Mais um vulto (Nobel) a ecoar no estrelato da "Nobre Literatura Portuguesa" a que este país já nos habituou; desde Gil Vicente, passando por Camões, Fernando Pessoa, Virgílio Ferreira, entre muitos outros.
    Porque a arte da escrita não tem uma linha pré-definida, deixando aberta a porta da criatividade, cada um dos referidos tiveram na sua brilhante originalidade forma de escrever, a capacidade de transmitirem ao mundo, nas suas formas mais vigorosas, como o viam na realidade mais subtil!

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