domingo, 15 de abril de 2012

Um band-aid no coração.



Meu coração é um traço seco.
Vertical,pós-moderno,coloridíssimo de néon.
Puro artifício,definitivo.

Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer.

E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça.Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar.

Caio Fernando Abreu (excertos)


Desnudando- mais uma vez- a alma tortuosa de Caio Abreu
Entregou-se à vida , ao sofrimento até o fim e deixou marcados a ferro e fogo seus tormentos.Viveu pouco e muito.

2 comentários:

  1. Que saudades de te ver e sentir no meu espaço...Adorei! Já tinha saudades...
    Um texto intenso de quem realmente viveu!!
    Quem em doce e branca nuvem adormeceu
    Passou pela vida mas...não viveu!!
    O sofrimento faz parte da vida!
    Mil beijos, minha querida e uma semana muito feliz.
    Graça

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  2. LIndo..lindo. Só quem ama de verdade, sofre.
    Amei te ler novamente.
    Abraços
    Jeni

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