quinta-feira, 5 de abril de 2012

A minha Páscoa não é de chocolate.



Replay
Hummm...cheiro de empadinhas quentes na madrugada. Cheiro de Páscoa na casa da minha madrinha,cheiro de família, cheiro da minha infância.

Amanhece azul luminoso.É 10 de abril de 2003 .São 7.20hs em meu caminho para a escola.O sinal fecha.Olho o outdoor à minha frente, onde gigantescos ovos apregoam as delícias do chocolate, mas meu nariz respira lembranças distantes de empadinhas quentes de frango, na madrugada.
E de repente...já não é cheiro. É gosto.Gosto das lágrimas de sal, onde a lembrança me entra pela boca.

É Páscoa. O mesmo céu, o mesmo sol me levam a 1954.Faz muito tempo...
Mércia e eu na procissão da Ressurreição.A missa na manhã fresca,o ar de festa,manhã iluminada.
É muito cedo para comer empadas!Mas, resistir quem há-de? E outra procissão se inicia, agora diante de uma montanha de empadinhas quentes:Sr Egidio, sempre circunspecto e formal, Sr Ismael no seu amassadíssimo terno de linho ( seria branco sujo?!...)Tio Nené, Sr Nicola Padula, minhas tias Joana, Landa e Amália e minha madrinha, Nina, a responsável por aquela maravilha gastronômica.Ih! chegou D.Véia, D.Nitinha e D. Olinda, as vizinhas-comadres e a festa continua.

Como é que eu, com apenas 10 anos, poderia saber que aquele bacião de empadas quentinhas, partilhadas entre amigos,em uma cozinha rústica, de telhas pretas, sem forro, ao pé de um fogão a lenha, era a felicidade?
Quantas coisas , sei agora,perdi por não saber naquele tempo.
" Onde estão todos eles?...Todos dormindo, dormindo profundamente!"

O sinal abriu e me encanto mais uma vez com a manhã de outono.Volto a 2003, sem saber exatamente o que faço ali, prá onde vou e porquê. Seco as lágrimas.O trabalho me espera.O sinal abre e devo seguir...
Dentro de mim ficou a sensação de reencontro com a minha vida. Sinto que ainda tenho raízes. Apesar de doer.

Não há mais cheiro de empadinhas quentes. Há sabor...Sabor salgado. E ele está na minha boca. Na minha saudade.

Campinas, 10 de abril de 2003



9 anos foram-se e continuo a sentir a mesma inefável presença de pessoas e cheiros que não existem mais a não ser na minha memória.Esse texto foi o início desse blog em 2007, salvo de uma agenda que eu queria descartar.E está aqui , porque todos  os anos tem representado o que eu gostaria de estar vivendo outra vez.





4 comentários:

  1. Feliz Renascimento, minha querida Gizelda.
    ''Dentro de mim ficou a sensação de reencontro com a minha vida. Sinto que ainda tenho raízes. Apesar de doer.

    Não há mais cheiro de empadinhas quentes. Há sabor...Sabor salgado. E ele está na minha boca. Na minha saudade.''
    _____________________é quanto basta.obrigada por ter partilhado comigo esta parte da sua vida.
    beijo-o no <3

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  2. Bom dia Gizelda. Às vezes parece que voce adivinha meus penssamentos. Tambem sou assim, Recordo e sinto saudades .Nada volta, mas a lembrança é forte . Amo te ler
    Feliz Paschoa
    Bjão/ JENI

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  3. Gizelda, eterno farol das boas leituras e das coisas fundamentais...

    Muito carinho e uma Feliz Páscoa!

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