sábado, 3 de dezembro de 2011

Dos flocos caem desejos.





Eu,
um de nós, talvez a geométrica flor, tenho experimentado
a sensação - que até agora desconhecia -, que estar
vivo e estar só é um sinal de alegria,
semelhante ao tombar da neve.


Se as espirais delicadas do contato com os outros (cada
vez mais delicadas) se transformam em mais frágeis à medida
que a sensibilidade aos atos de linguagem - e aos 
atos -cresce,


esta face a face sem intermediários humanos com as coisas
pode fazê-las transparecer num espaço máximo.


É talvez uma fase nova da aprendizagem da leitura - será
preciso entrar nesse espaço em que dos flocos já caem letras 
para usar finamente o privilégio de ensiná-las aos animais do Mosteiro, 
chamamento que aqui demos à sua 
contemplação. 


Mosteiro e monstro - e os caminhos transitáveis entre eles;
por fim, suponho que o nosso cântico de leitura dará nascimento a híbridos. 


Maria Gabriela LLansol, Os Cantores de Leitura, Assírio & Alvim, 
p. 22


Vontade intensa de ser mar, sendo só areia.De não ser substantivo, ser verbo, sempre.

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