sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Eu desejo impossivelmente o possível...



O que há em mim é sobretudo cansaço -
     Não disto nem daquilo,
     Nem sequer de tudo ou de nada:
     Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
     Cansaço.
    
A sutileza das sensações inúteis,
    As paixões violentas por coisa nenhuma,
    Os amores intensos por o suposto em alguém, 
    Essas coisas todas —
    Essas e o que falta nelas eternamente —;
    Tudo isso faz um cansaço,
    Este cansaço,
    Cansaço. 
   
 Há sem dúvida quem ame o infinito,
    Há sem dúvida quem deseje o impossível,
    Há sem dúvida quem não queira nada —
    Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
    Porque eu amo infinitamente o finito,
    Porque eu desejo impossivelmente o possível,
    Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
    Ou até se não puder ser... 
    
E o resultado?
    Para eles a vida vivida ou sonhada, 
    Para eles o sonho sonhado ou vivido,
    Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... 
    Para mim só um grande, um profundo,
    E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, 
    Um supremíssimo cansaço, 
    Íssimno, íssimo, íssimo,
    Cansaço...

Álvaro de Campos

Se eu tivesse que escolher uma personalidade de Fernando Pessoa, escolheria todas, porque felizmente ele é todos em um.Que maravilha poder partilhar de um universo,no qual esse homem existiu.


Quanto ao cansaço, assim mesmo : de tudo e de nada.É esse,também,o meu cansaço.

2 comentários:

  1. Vou colocar nas minhas páginas do face, este link.
    Abraços e sempre grata, amiga.

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  2. Absolutamente Gizelda, escolheria todas! Como adoro estas palavras... obrigada!

    Beijinho

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