segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Amamos, tão somente,a ideia que fazemos de alguém.



"Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma idéia nossa. O onanista é objeto, mas, em exata verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.

As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. 
Dizem os dois "amo-te" ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma idéia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de impressões que constitui a actividade da alma." 


Livro do Desassossego - Bernardo Soares




Mais do mesmo.Eu poderia postar Fernando Pessoa todos os dias até o último da minha vida e sempre estaria dizendo algo precioso, inusitado,imenso. Sinto inefável prazer em lê-lo e partilhá-lo com todos que conseguem ver poesia , mesmo quando ela não há.

5 comentários:

  1. Eu a vejo, querida amiga, e tenho a impressão de que este texto foi postado para mim! É o que preciso saber sobre o amor!

    Posso postá-lo na página inicial do meu orkut, com os devidos créditos!

    Beijos!

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  2. Poderia ler Fernando Pessoa todos os dias, que sempre encontraria algo de precioso.

    Um beijinho

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  3. Gizelda,
    Não é à toa que O Livro do Desassossego é leitura permanente...

    Beijo :)

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  4. O AMOR QUANDO SE REVELA


    O amor, quando se revela,
    não se sabe revelar.
    Sabe bem olhar p'ra ela,
    mas não lhe sabe falar.

    Quem quer dizer o que sente
    não sabe o que há de dizer.
    Fala: parece que mente.
    Cala: parece esquecer.

    Ah, mas se ela adivinhasse,
    se pudesse ouvir o olhar,
    e se um olhar lhe bastasse
    pra saber que a estão a amar!

    Mas quem sente muito, cala;
    quem quer dizer quanto sente
    fica sem alma nem fala,
    fica só, inteiramente!

    Mas se isto puder contar-lhe
    o que não lhe ouso contar,
    já não terei que falar-lhe
    porque lhe estou a falar...
    Fernando Pessoa

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  5. Adorei Gi!!
    Bjo grande! ;)

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