quinta-feira, 15 de setembro de 2011

...em silêncio, ouve o teu coração.


                                
“(…) Sabes qual é o erro que cometemos sempre? Acreditar que a vida é imutável, que, mal escolhemos um carril, temos de o seguir até ao fim. Contudo, o destino tem muito mais imaginação do que nós... Precisamente quando se pensa que se está num beco sem saída, quando se atinge o cúmulo do desespero, com a velocidade de uma rajada de vento tudo muda, tudo se transforma, e de um momento para o outro damos por nós a viver uma nova vida.

-Se, esteja onde estiver, arranjar maneira de te ver, só ficarei triste, como fico triste sempre que vejo uma vida desperdiçada, uma vida em que o caminho do amor não conseguiu cumprir-se.
Tem cuidado contigo. Sempre que à medida que fores crescendo, tiveres vontade de converter as coisas erradas em certas, lembra-te que a primeira revolução a fazer é dentro de nós próprios, a primeira e a mais importante. Lutar por uma ideia sem se ter uma ideia de si próprio é uma das coisas mais perigosas que se pode fazer.

Quando te sentires perdida, confusa, pensa nas árvores, lembra-te da forma como crescem. Lembra-te que uma árvore com muita ramagem e poucas raízes é derrubada à primeira rajada de vento, e que a linfa custa a correr numa árvore com muitas raízes e pouca ramagem. As raízes e os ramos devem crescer de igual modo, deves estar nas coisas e estar sobre as coisas, só assim poderás dar sombra e abrigo, só assim, na estação apropriada, poderás cobrir-te de flores e de frutos.

E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera.
Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar.

Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai onde ele te levar.
(…)"


Susanna Tamaro, "Vai onde te leva o coração"





Creio que só a contemplação mística do silêncio nos permite ouvir o coração . Levantar-se e segui-lo  seria fácil se as memórias adormecessem.

4 comentários:

  1. Às vezes a árvore que você aduba com cuidado,carinho e respeito, rega constantemente, Se fortalece diante do outro e seca diante de você. Tento ouvir meu coração, mas é difícil esse exercício de contemplação, se o desassossego da alma atormentada não a permite silenciar. Bjusss

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  2. Devorei este livro em duas noites. É lindo, lindo! Que bom reler aqui estas palavras. Devíamos escutar melhor o nosso coração...

    Um grande beijinho

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  3. É verdade! Antes sentar e esperar do que vaguear sem rumo certo.A voz do coração é que orienta. Saber escutála é uma benção. Lindo texto, querida Giselda.
    Bem haja, pelas suas gentis palavras no meu blog.
    Bjito amigo e uma flor.

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  4. A razão pondera demais. Somos racionais sim, mas somos também emoção. Não agimos apenas racionalmente; nossas ações carregam grande dose de emoção; emoções é que nos movem, nos agitam, nos faz acordar todos os dias. Portanto, o coração, fonte de nossas emoções, é certamente responsável pela orientação de nossas ações, é a nossa bússola... No entanto, guiar-se pelo coração exige-nos um grau de maturidade maior e essa maturidade depende de uma capacidade de interiorização. A maturação vem de dentro e se desenvolve quando experienciamos a nós mesmos, lá o 'ser' em nós reside. Para ouvir o coração, precisamos estar surdo para os ruídos do mundo.

    Beijos carinhosos!
    Um texto fértil para reflexões!
    Adorei!

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