sábado, 27 de novembro de 2010

A solidão é a distância entre a seiva profunda e a casca.

(...) Deixe lá, não tome as minhas palavras como uma censura, deu-me até muito gosto que tivesse aparecido, esta primeira noite, provavelmente, não ia ser fácil, Medo, Assustei-me um pouco quando ouvi bater, não me lembrei que pudesse ser você, mas não estava com medo, era apenas a solidão, Ora, a solidão, ainda vai ter de aprender muito para saber o que isso é, Sempre vivi só, Também eu, mas a solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz, Você está a tresvariar, tudo quanto menciona está ligado está ligado entre si, aí não há nenhuma solidão, Deixemos a árvore, olhe para dentro de si e veja a solidão, Como disse o outro, solitário andar por entre a gente, Pior do que isso, solitário estar onde nem nós próprios estamos (...)

José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis


...porque nesse ano as perdas são muitas e Saramago, mesmo permanecendo,quando se foi, me deixou mais só.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Amor incondicional.


Minha querida Titi...

Quando você partiu , hoje, pela manhã, eu não consegui compreender como o sol continuou a brilhar e o céu permaneceu azul, enquanto a minha alma perdia a cor e o brilho.

Durante mais de 16 anos , você foi a presença silenciosa ao meu lado, mesmo quando fingia dormir e me observava. Voltar para casa sem você, foi não ter alguém atrás da porta , pressentindo minha chegada e me fazendo festa porque estava feliz. Nunca mais você estará lá, e não sei como me acostumar sem o barulho dos seus pezinhos pelo assoalho.

Porém minha querida, seu coração , simplesmente parou. Há alguns dias , você insistentemente me olhava, sem me ver, como que pedindo socorro.

Olhou, pela última vez ,nessa manhã,com seus olhinhos baços, com suas perninhas trôpegas e eu tentei ajudá-la... Não deu.

Você se foi em um cantinho do meu carro, encolhidinha, assim como viveu pelos cantinhos do meu quarto, da sala, na sua almofada, na sua caminha. ..e é assim que que você vai continuar viva para sempre : em um cantinho do meu coração.

Obrigada por alguns anos da minha vida que foram a sua inteira.

domingo, 21 de novembro de 2010

É muito bom estar aqui...

Um presente especial :http://emapretoebrancoouacores.blogspot.com/

Dores acontecem sem aviso prévio.Instalam-se de mansinho, vem e vão com uma autonomia que não lhes conferimos, mas que elas possuem. Fui acometida por algumas delas que se somaram e a física acentuou-se e sobrepujou a emocional. Não é o amor, nem o ódio, os sentimentos mais poderosos que nos possuem,     é o medo . Quando somos detentores dele ,uma névoa nos impede de ver ou sentir ...Medo é o limite que nos proibe de cometer excessos, mas também faz com que fantasmas adquiram vida.Há, contudo, um instrumento poderoso que bem manejado tem o alcance que quisermos lhe dar : a palavra.

Sempre soube que a palavra é mágica. Capaz de nos derrubar, é, no entanto, responsável pelo nosso sucesso, nossa auto-estima, pela vibração positiva que podemos espargir e por congregar pessoas e afetos. Tenho vivenciado isso com uma nitidez assombrosa.

Estou me sentindo “possuidora” de algumas palavrinhas que podem afirmar isso com convicção : amor, agradecimento, alegria,certeza de que ( como disse de uma maneira muito feliz a Em@) pessoas podem transpor um oceano e se relacionar com sensibilidade e delicadeza.

Assim,obrigada pelos comentários,pelos emails, pela presença explicita ou silenciosa, pelo carinho, enfim por vocês terem descortinado meu horizonte, mostrando-me que amor não tem tempo, idade, distância, contexto. Ele está no ar... só as pessoas especiais conseguem vê-lo e tocá-lo. Vocês são especiais. É maravilhoso tê-los aqui.

Obrigada.
Beijos e beijos.

PS: a jóia especial que ilustra esse post foi um presente da Em@. Dourada como seu talento, brilhante como sua generosidade.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Absoluto vazio existencial.


Há alguns dias ( ou seriam meses?...) tenho estado silenciosa. Desencantada? Caustica? Crítica? Talvez, esse silêncio me faça enxergar mais do que quero ver. Não sei...

Olho à minha volta e não gosto do que me circunda, nem do que sinto. Fazer parte da superficialidade com que se estabelecem as relações pessoais próximas e distantes está me deixando fragilizada. Há algum tempo estou me sentindo inadequada sem conseguir descobrir em relação a quê. Não consigo existir assim. Preciso de profundidade.
De pé no chão.
De base.
Sinto enorme falta de olhos nos olhos, de emoção do abraço apertado, de sorriso prazeroso de encontros e reencontros, de amenidade gostosa do bem-querer descompromissado e gratuito saboreado ao largo de uma xícara de café, de camaradagem profissional. Falta de simplesmente me deixar ser e entrar no ritmo da vida.
Onde estão a verdade,
o afeto,
a lealdade,
a alegria pura de ser o que se é,
sem cobranças , sem parâmetros de comparação e sem culpas?
Em um cotidiano sem tréguas, feroz e competitivo, o mundo caminha por uma trilha onde sucesso é sinônimo de prioridades materiais e prestígio público. Uma indizível solidão salta dos olhos das pessoas que já não se fitam , nem se amam.Não se importam...
afinal poder tem sido melhor do que ser.

Absoluto vazio existencial.

Ter consciência disso , fazer parte disso , é, como diria Clarice Lispector,“uma lucidez perigosa”.O que fazer com essa certeza?
Definitivamente não quero isso para mim...Talvez me faltem - ainda- coragem e ousadia para quebrar o faz-de-conta e ser sozinha mesmo, porque é assim que vou estar, quando ousar ser alguém e não algo.
Mas, então,pode ser esse o meu alumbramento : encontrar a mim mesma para ser minha companhia!