domingo, 3 de outubro de 2010

Aprendendo a olhar...


A Arte de Ser Feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas, todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e , em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual para que o jardim não morresse.E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros ,e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes , abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola.Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham a boca sonhando com pardais.Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta.Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela,uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.


Cecília Meirelles(Quadrante- 2ª edição, Rio, 1962)


No meu intenso ofício de aprendiz da vida , descobri - aos pouquinhos- que é preciso mais do que olhar o que nos rodeia. É necessário ver,analisar, render-se à realidade e apegar-se aos sonhos.Sempre olhando e ...vendo.
Em verdade,não percebemos que somos felizes, no cotidiano, vivendo acontecimentos corriqueiros e habituais.
Frequentemente, olhamos “sem ver” , não conseguimos avaliar em profundidade o que está ao nosso alcance.
Aprender a “ olhar e ver” – uma “leitura” essencial do mundo.Um execício difícil e cotidiano.

10 comentários:

  1. Já conhecia o texto e concordo com Cecília Meireles. Concordo também com o parecer deixado pela Gizelda. Olhar, não significa ver, de facto. Ver implica um accionar dos "olhos" da alma e do pensamento, um esforço para interpretar o mundo. É por isso que os olhares sobre um mesmo objecto em análise podem ter significados muito divergentes.

    Um beijo

    ResponderExcluir
  2. "Aprender a “ olhar e ver” – uma “leitura” essencial do mundo. Um exercício difícil e cotidiano."

    No entanto, necessário.

    Beijo :)

    ResponderExcluir
  3. Disfrutei tanto do seu post anterior que acabei por apanhar velocidade a mais e acho que já me adiantei em relação a esta "aprendendo a olhar" uma lição para VER melhor... E agora sem querer lembrou-me a história do Capuchinho Vermelho... :) Mas neste caso não são os olhos grandes que nos permitem VER melhor :) Se calhar depois do captar da primeira imagem, o resto ou grande parte dele é visto com os sentimentos, os sentidos, o coração, a experiência, um toque, uma lágrima, ...

    Como gosto de vir aqui e tentar VER estas entrelinhas!

    Beijinhos

    ResponderExcluir
  4. Gizelda,
    em todos os dias da minha vida tento não me distrair quando olho.
    talvez por isso fique muitas vezes aparentemente desatenta.

    beijo no seu coração.

    ResponderExcluir
  5. Oi, Lídia...

    É isso mesmo.Nós somos muito superficiais em relação ao nosso entorno. Se olhássemos com intenção de ver, teríamos, talvez, um pouco mais de alegrias.

    beijos , querida.

    ResponderExcluir
  6. Querido AC...


    Necessário é a palavra-chave. Apenas, na maioria das vezes utilizamos a palavra , mas não a transformamos em ação.Esse é o grande problema.
    Parece que procuramos as coisas nos lugares errados e, na verdade, elas sempre estiveram ao nosso alcance, nós é que não as enxergamos.

    Beijo

    ResponderExcluir
  7. JB querida...

    Que bom você gostar de vir aqui!
    E, tem razão,quando nós cegamos, são os outros sentidos que veem o que não vimos.

    Às vezes , dou-me conta de que temos conhecimento de muitas coisas, mas nunca o apliacamos como seria o ideal.Quem sabe , um dia, a gente aprende!

    Beijinhos.

    ResponderExcluir
  8. O paradoxo que você criou nesse comentário , deixou-me reflexiva.

    Que delícia conhecer alguém que sabe olhar e ver.Faz muito tempo que estou aprendendo.

    beijinho, querida Em@

    ResponderExcluir
  9. Existem alturas em que consigo ver tudo o que me rodeia, para além do que se vê sem olhar, desfrutar do mais ínfimo detalhe, mas nem sempre a vida nos permite ter uma visão lúcida e consciente dos detalhes que nos rodeiam. Contudo concordo que na maioria das vezes somos felizes sem percebermos que o somos, assim como perdemos muito tempo à procura da felicidade no sítio errado. Pessoalmente gosto de analisar tudo. Ver tudo.

    Beijinho :)

    ResponderExcluir
  10. Querida Helga...

    Você não sabe como estou feliz com sua presença aqui de novo!

    Aprender a ver é uma arte e um exercício. Confesso que me esforço, mas nem sempre tenho êxito.

    Beijos, querida. Espero que voc~e fique bastante tempo entre nós.

    ResponderExcluir