segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Cortázar, perfeito.


Te desafio a por e falar de mim, sem dar pista nenhuma de quem eu sou, apenas falando o que represento na tua vida.

Te amo por sobrancelha, por cabelo, te debato em corredores branquíssimos onde se jogam as fontes de luz,
te discuto em cada nome, te arranco com delicadeza de cicatriz, vou pondo em teu cabelo cinzas de relâmpago e fitas que dormiam na chuva.

Não quero que tenhas uma forma, que sejas precisamente o que vem atrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitetura do nada,
acendendo suas lâmpadas no meio do encontro.

Todo amanhã é o quadro onde te invento e te desenho,
disposto a te apagar, assim, não és, muito menos com esse cabelo liso, esse sorriso.

Busco tua soma, a borda da taça onde o vinho é também lua e o espelho,
busco essa linha que faz o homem tremer numa galeria de museu.

Além do mais, te amo, e faz tempo e frio.


Julio Cortázar

Esse texto dispensa adendos. É demais.

6 comentários:

  1. Realmente um profundo e belo texto!
    Obrigada por compartilhar amiga!
    Carinhos meus a ti... Bjsss

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  2. Obrigada, Ibel...É uma delícia partilhar textos de qualidade.

    Muitos beijos.

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  3. Flor...estava com saudades da sua presença aqui.

    Obrigada.

    beijos.

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  4. Que mais se pode dizer senão: MARAVILHOSO!
    Beijo
    Graça

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  5. Oi,Graça...

    Acho muito difícil criar um texto sobre o amor e ser original. Foi isso que Cortázar me passou nele.
    Que bom que vc gostou!

    Obrigada. beijo

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