quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um texto irretocável...


VAMOS REORDENAR AS PRIORIDADES...

Sou uma pessoa comum. Fui criado com princípios morais comuns.

Quando criança, ladrões tinham a aparência de ladrões e nossa única preocupação em relação a segurança era a de que os "lanterninhas" dos cinemas nos expulsassem devido as batidas com os pés no chão quando uma determinada musica era tocada no início dos filmes, nas matinês de domingo.

Mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades presumidas, dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos, e/ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder deseducadamente a policiais, mestres, idosos, autoridades. Confiávamos nos adultos porque todos eram pais/mães das crianças da rua, do bairro, da cidade.Tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror.

Ouvindo hoje o jornal da noite, deu-me uma tristeza infinita por tudo que perdemos. Por tudo o que meu filho precisa temer. Pelo medo no olhar de crianças, jovens, velhos e adultos. Matar os pais, os avós, violentar crianças, sequestrar jovens, roubar, enganar, passar a perna, tudo virou banalidades de noticias policiais, esquecidas após o primeiro intervalo .

Agentes de trânsito multando infratores são exploradores, funcionários de industrias de multas. Policiais em blitz são abuso de autoridade.Regalias em presídios são matéria votada em reuniões. Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos.

Não levar vantagem e ser otário. Pagar dívidas em dia e bancar o bobo, anistia para os caloteiros de plantão. Ladrões de terno e gravata, assassinos com cara de anjo, pedófilos de cabelos brancos.

O que aconteceu conosco? Professores surrados em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas portas e janelas.

Crianças morrendo de fome, gente com fome de morte.

Que valores são esses? Carros que valem mais que abraço, filhos querendo-os como brindes por passar de ano. Celulares nas mochilas dos que recém largaram as fraldas. TV, DVD, telefone, vídeo game, o que vai querer em troca desse amasso, meu filho? Mais vale um Armani do que um diploma. Mais vale um telão do que um papo. Mais vale um baseado do que um sorvete. Mais valem dois vinténs do que um gosto.

Que lares são esses? Bom dia, boa noite, até mais. Jovens ausentes, pais ausentes, droga presente e o presente uma droga. O que é aquilo?

Uma árvore, uma galinha, uma estrela. Quando foi que tudo sumiu ou virou ridículo? Quando foi que senti amor pela última vez? Quando foi que esqueci o nome do meu vizinho? Quando foi que olhei nos olhos de quem me pede roupa, comida, calçado sem sentir medo? Quando foi que fechei a janela do meu carro? Quando foi que me fechei?

Quero de volta a minha dignidade, a minha paz e o lugar onde o bem e o mal
são contrários, onde o mocinho luta com o bandido e o único medo e de quem
infringe, de quem rouba e mata. Quero de volta a lei e a ordem.

Quero liberdade com segurança. Quero tirar as grades da minha janela para tocar as flores. Quero sentar na calçada, e minha porta aberta nas noites de verão. Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olho no olho.

Quero a vergonha, a solidariedade e a certeza do futuro. Quero a esperança,a alegria. Eu quero ser gente e não peça de um jogo manipulado por TV a cabo.

Eu quero a noticia boa, a descoberta da vacina, a plantação do arroz. Eu quero ver os colonos na terra, as crianças no colégio, os jovens divertindo-se, os velhinhos contando historias. Eu quero um emprego decente, um salário condizente, uma oportunidade a mais. Uma casa para todos, comida na mesa, saúde a mil.

Quero livros e cachorros e sapatos e água limpa. Não quero listas de animais em extinção. Não quero clone de gente, quero cópia das letras de música.

Eu quero voltar a ser feliz!
Quero dizer basta a esta inversão de valores e ideais.
Quero mandar calar a boca quem diz "a nível de", "neste país", "enquanto pessoa", "eles tem que", "é preciso que".

Quero xingar quem joga lixo na rua, quem fura a fila, quem rouba um lápis, quem ultrapassa a faixa, quem não usa cinto, quem não paga a conta, quem não dignifica meu voto.

Quero rir de quem acha que precisa de silicone, implante, conta no banco, carro importado, laptop, bolsa XYZ, calca ZYX para se sentir inserido no contexto ou ser "normal".

Abaixo a ditadura do "tem que", as receitas de bolo para viver melhor, as técnicas para pensar, falar, sentir! Abaixo o especialista, o sabe-tudo rodeado de microfones e câmeras!

Abaixo o "ter", viva o "ser"!

E viva o retorno da verdadeira vida, simples como uma gota de chuva, limpa como um céu de abril, leve como a brisa da manhã!

E definitivamente comum, como eu.

Cesar Costa- 01/04/2010.


Não tenho a mínima noção de quem seja César Costa,mas o texto foi, casualmente, encontrado na Web, e confesso que fiquei tocada por ele. Creio que a maioria de nós sente-se assim , aviltada e ludibriada por valores invertidos com os quais convivemos oprimidos no cotidiano.

Esse texto é um "senhor" desabafo!Valeu para ele, valeu para mim e pode valer para você!

6 comentários:

  1. É Tia Giza, estamos tornando a Id. Média. Estamos nos feudalizando, colocando grades em casa e buscando a ajuda de um senhor de terras (nosso governo) para nos proteger.
    Triste! E nos sentimos peça tão inútil para reverter esse processo!
    Grande beijo e obrigado mais uma vez por um texto que incita a reflexão.

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  2. Sem dúvida um texto irretocável! Não tiro um único 'a'. Excelente! Verdadeiro! Aterrador! Palavras muito oportunas, numa altura em que os valores éticos e morais são cada vez mais esquecidos e substituídos pela ilusão de uma liberdade doente e sem escrúpulos. Mais uma excelente escolha, para reflectir e reavaliar prioridades.

    Beijinho :)

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  3. "Abaixo o "ter", viva o "ser"!"

    Que mais dizer, quando está tudo sintetizado nesta frase?
    Não me vou alongar no tema, embora ele seja questão fulcral dos nossos dias. E, embora seja um optimista, creio que o pior ainda está para vir. Deixo apenas duas ou três questões:
    As coisas mudam apenas com o voto?
    Será que os governos ainda governam, ou eles são simples reféns dos grandes grupos económicos?
    Será que a mudança passa por uma maior consciencialização das pessoas, tendo estas que investir na sua evolução pessoal? Como é que se faz isso?
    Fico-me por aqui, embora apeteça dizer muito. E ouvir.

    Beijo

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  4. Sem dúvida, Mau, estamos ficando cada vez mais perfeitos "tecnicamente" e retrocedendo como seres humanos.

    Consciência disso o mundo tem, mas ação reversa para a essencial mudança não existe.

    Só sei que ao ler esse texto senti um nó na garganta, porque queira ou não estou fazendo parte desse todo.

    Tem razão,é triste!

    Beijo, querido.

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  5. Essa é a palavra, Helga : aterrador.
    Uma absurda inversão de valores na qual somos envolvidos de roldão.

    Embora a vida " lá fora" esteja seguindo seu curso ditado pelo coletivo, resta o consolo de olhar "para dentro" de nós e resgatar a porção individual digna que ainda temos.

    Quem sabe, um dia...

    Beijos. Delícia tê-la de novo aqui.

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  6. Ah! queria ter respostas para suas perguntas , AC.

    Mas, atrevo-me a responder a primeira : nenhum governo vai mudar isso com ou sem voto, por dois motivos : valores são individuais e quando se coletivizam de maneira errada formam uma avalanche maior do que cada um de nós;
    dois,o " poder" embriaga e cega. Mesmo os mais bem intencionados, quando o alcançam perdem o referencial , entregam-se a uma orgia sem limites.Infelizmente, isso é histórico.

    Não sou otimista como você e ,muitas vezes, sinto-me bastante angustiada por ter que me moldar à situações com as quais minha alma e meu cérebro não compactuam.

    Ler o texto nos deixa inquietos e verborrágicos, mas , ao mesmo tempo, com uma brutal sensação de impotência. Pelo menos, eu me sinto assim.

    Beijos. Muito obrigada.
    Ainda bem que em seu blog há Asas para a gente escapar.

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