sexta-feira, 30 de julho de 2010

Todos estão presos à felicidade ou ao sofrimento.


“ A tragédia deste mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso a uma época de felicidade ou sofrimento. A tragédia deste mundo é que todos estão sozinhos, pois uma vida no passado não pode ser partilhada com o presente”

Alan Lightman in Sonhos de Einstein / 1993


Como é que alguém esquece quem é, se para ser foi preciso viver?
Os bons momentos são saudades, os maus , aprendizado.Indiscutivelmente,não temos como apagá-los.Entretanto, não se partilha o passado com o presente, e se partilha´-los é o requisito para a felicidade, então não temos nenhuma chance.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Agora escrevo pássaros...



Agora escrevo pássaros.
Não os vejo chegar, não escolho,
de repente estão aí,
um bando de palavras
a pousar
uma
por
uma
nos arames da página,
entre chilreios e bicadas, chuva de asas,
e eu sem pão para dar, tão somente
deixo-os vir. Talvez
seja isto uma
árvore
ou,quem sabe,
o amor.


Júlio Cortázar, trad. Sidnei Schneider

É de uma beleza impar esse verso "Agora escrevo pássaros".Você alguma vez já conseguiu escrever pássaros?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um desafio...



Recebi o selo e o desafio de um grande amigo virtual -AC- do http://ac-wwwinterioridade.blogspot.com/. Sinto-me feliz e honrada e aqui estou para responder ao que me foi perguntado:

Porque é que criou um blogue e, quando o criou, tinha expectativas de que fosse popular?

Há pessoas que guardam coisas pela vida afora, prendendo-as a fatos, família, amigos, amores , saudades.Isso é um vício? Um hábito? Uma mania? Não sei...mas eu , estranhamente, guardo minhas agendas usadas.
Bizarro, mas fácil de explicar. Elas, as agendas, são muito mais que repositórios de meus compromissos; são fieis e caladas cúmplices do que me acontece durante os anos que transcorrem.Nelas vão sendo colocados desejos, sonhos, frustrações, sucessos,às vezes algo que só eu sinto e sei, que vivo na hora, registro,e que depois se esvai de mim,da vida, mas permanece.

Todos os anos prometo que vou me desfazer daquelas dezenas empilhadas,no entanto, quando abro uma, em página qualquer, e a leio, sinto incômodo, como se ao descartá-la apagasse algo importante . É como truncar minha história e extirpar dela o que vivi. Reponho-a em seu lugar com a reverência de quem se guarda.

Tudo isso só para explicar como nasceu esse blog...

Em 10 de janeiro de 2007, fazendo a pseudo-limpeza de agendas passadas,consegui eliminar uma :2003. Um ano difícil que eu gostaria de apagar.Simbolicamente o fiz, porque me desfiz dela,mas o que eu queria mesmo que ficasse era uma crônica nascida em um sinaleiro em Campinas,no meu trajeto para Souzas, a caminho da escola.

Era uma iluminada manhã de abril , vi-me diante de um gigantesco outdoor que apregoava as delícias do chocolate. Em alguns segundos minha memória voou para muito tempo atrás , recuperou algo precioso , bem ali no meio da avenida. E escrevi sobre isso tão logo foi possível. Incentivada pela minha filha, pelo desafio cheguei até aqui.Joguei fora a tal agenda, não sem antes sentir uma pontinha de remorso,e iniciei esse blog com um post salvo da agenda : Empadinhas quentes na madrugada.

Um blog precisa de nome, identidade. Algo que retrate quem vive nele. Assim, Desassossego... Por quê?
Em princípio, porque O Livro do Desassossego,Fernando Pessoa, desde que o descobri, vive à minha cabeceira. Isso mesmo. Vive. Tem vida tal a influência que produz em mim.Conversa comigo.Conversamos, aliás.

O motivo dois vem da minha ansiedade à espera de alguma coisa que não sei o que é.Acho que esperei a vida inteira e não posso procurá-la porque não tenho a menor ideia do que seja. A inquietude, no entanto, é recorrente.Está grudada em mim como pele.

Imaginei que a partir do blog descartaria qualquer confidência aos papéis e só recorreria ao computador. Ledo engano! Não consigo sobreviver sem papel....(rs)Outra mania...
Foi então que conclui que é imensamente prazeroso postar aqui, porém, definitivamente,não substitui a agenda.Ainda.

Às vezes, venho para falar sobre alguma coisa que me diz respeito, como agora, mas é muito raro. As agendas continuam repletas ( não consigo me desfazer delas ...uma questão para terapia , acho), as estantes idem e o blog se multiplica em posts.

Foram anos perfeitos onde conheci pessoas especiais, recuperei outras de quem me perdera, mas, sobretudo , porque vivo aqui com autores e livros que constroem dia-a-dia o alguém que sou. Encontros de mim comigo.Cada vez que posto um texto, sinto o inefável prazer de saber que ele pode ser partilhado , ouvido, sentido por muitos.

Percebi o quanto a literatura me transformou e me transforma e como eu sou grata por, um dia, tê-la escolhido para complementar minha vida.Por isso vou continuar.
( replay de um post antigo)

Em que data exata iniciou o blogue?
10 de janeiro de 2007.

Nomeie cinco seguidores leais.
Vou escolher aqueles com mais afinidades que me abraçam com seus comentários e seu carinho, e que quando postam comentários" conversam" comigo muito além das palavras deixadas. Um algo mais nas entrelinhas...E quando não estão aqui,ao visitá-los, tenho a mesma sensação.

A Helga do http://planicies-da-memoria.blogspot.com é indiscutivelmente alguém que me fez descobrir talentos e sensibilidade incomuns.É uma preciosa amiga virtual, com certeza.
O João Carlos do http://cartasdetiro.wordpress.com/foi uma presença sólida e brilhante na trajetória do Desassossego.
A Gabriela do http://bigbagofdreams.blogspot.com/porque sonha , transforma em poesia os sonhos e vai à luta paara fazê-los reais.
A Cintia do http://maniadeler-cintia.blogspot.com/ porque me encanta ser ela uma leitora contumaz aos 12 anos, capaz de selecionar obras e textos e postá-los como se fosse " gente grande".
A Thaís do http://beijoanoite.blogspot.com porque exala poesia e está descobrindo que a realidade também pode ser poética.

Beijos a todos e muito obrigada por fazerem parte desse mundo paralelo onde todas as possibilidades estão abertas.Em especial sonhar...

domingo, 25 de julho de 2010

Um pião.



O século caminha .Realidade virtual, engenharia genética, mídia acelerada,cientificismo além do que se podia imaginar, o homem descobriu tudo e continua sozinho.É uma incógnita para si mesmo.

Assim é você. Assim sou eu. Será que todo ser humano, em um dado momento, transforma-se em “fingidor”?Qual é a real distância entre o que somos e o que aparentamos ser?

Hoje, em momento de silêncio, eu-comigo, tracei um paralelo entre minha vida profissional/ pessoal e tive uma resposta, no mínimo, instigante: quanto à primeira, acho que estou vivendo uma calmaria existencial, não pelo que faço, mas pelo que já aprendi.Tenho mais segurança, desenvolvi uma visão lúcida do que sei e dos que vivem ao meu redor. Estou longe de chegar ao “ final feliz” , mesmo porque sou cética a respeito dele.Consegui, no entanto,desenvolver uma couraça que me protege e me dá cobertura para trabalhar. Diria que estou “ quase imune”.Quase...

Quanto a vida pessoal continuo o que sempre fui : um pião girando vertiginosamente,loucamente, com medo de parar. Se o fizer, creio que não terei equilíbrio para me manter de pé. Doído e doido.

Como e quando isso irá terminar?

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O que é sorte?



“Com sorte, você atravessa o mundo. Sem sorte não atravessa a rua”

Nelson Rodrigues

Será?...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um texto irretocável...


VAMOS REORDENAR AS PRIORIDADES...

Sou uma pessoa comum. Fui criado com princípios morais comuns.

Quando criança, ladrões tinham a aparência de ladrões e nossa única preocupação em relação a segurança era a de que os "lanterninhas" dos cinemas nos expulsassem devido as batidas com os pés no chão quando uma determinada musica era tocada no início dos filmes, nas matinês de domingo.

Mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades presumidas, dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos, e/ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder deseducadamente a policiais, mestres, idosos, autoridades. Confiávamos nos adultos porque todos eram pais/mães das crianças da rua, do bairro, da cidade.Tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror.

Ouvindo hoje o jornal da noite, deu-me uma tristeza infinita por tudo que perdemos. Por tudo o que meu filho precisa temer. Pelo medo no olhar de crianças, jovens, velhos e adultos. Matar os pais, os avós, violentar crianças, sequestrar jovens, roubar, enganar, passar a perna, tudo virou banalidades de noticias policiais, esquecidas após o primeiro intervalo .

Agentes de trânsito multando infratores são exploradores, funcionários de industrias de multas. Policiais em blitz são abuso de autoridade.Regalias em presídios são matéria votada em reuniões. Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos.

Não levar vantagem e ser otário. Pagar dívidas em dia e bancar o bobo, anistia para os caloteiros de plantão. Ladrões de terno e gravata, assassinos com cara de anjo, pedófilos de cabelos brancos.

O que aconteceu conosco? Professores surrados em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas portas e janelas.

Crianças morrendo de fome, gente com fome de morte.

Que valores são esses? Carros que valem mais que abraço, filhos querendo-os como brindes por passar de ano. Celulares nas mochilas dos que recém largaram as fraldas. TV, DVD, telefone, vídeo game, o que vai querer em troca desse amasso, meu filho? Mais vale um Armani do que um diploma. Mais vale um telão do que um papo. Mais vale um baseado do que um sorvete. Mais valem dois vinténs do que um gosto.

Que lares são esses? Bom dia, boa noite, até mais. Jovens ausentes, pais ausentes, droga presente e o presente uma droga. O que é aquilo?

Uma árvore, uma galinha, uma estrela. Quando foi que tudo sumiu ou virou ridículo? Quando foi que senti amor pela última vez? Quando foi que esqueci o nome do meu vizinho? Quando foi que olhei nos olhos de quem me pede roupa, comida, calçado sem sentir medo? Quando foi que fechei a janela do meu carro? Quando foi que me fechei?

Quero de volta a minha dignidade, a minha paz e o lugar onde o bem e o mal
são contrários, onde o mocinho luta com o bandido e o único medo e de quem
infringe, de quem rouba e mata. Quero de volta a lei e a ordem.

Quero liberdade com segurança. Quero tirar as grades da minha janela para tocar as flores. Quero sentar na calçada, e minha porta aberta nas noites de verão. Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olho no olho.

Quero a vergonha, a solidariedade e a certeza do futuro. Quero a esperança,a alegria. Eu quero ser gente e não peça de um jogo manipulado por TV a cabo.

Eu quero a noticia boa, a descoberta da vacina, a plantação do arroz. Eu quero ver os colonos na terra, as crianças no colégio, os jovens divertindo-se, os velhinhos contando historias. Eu quero um emprego decente, um salário condizente, uma oportunidade a mais. Uma casa para todos, comida na mesa, saúde a mil.

Quero livros e cachorros e sapatos e água limpa. Não quero listas de animais em extinção. Não quero clone de gente, quero cópia das letras de música.

Eu quero voltar a ser feliz!
Quero dizer basta a esta inversão de valores e ideais.
Quero mandar calar a boca quem diz "a nível de", "neste país", "enquanto pessoa", "eles tem que", "é preciso que".

Quero xingar quem joga lixo na rua, quem fura a fila, quem rouba um lápis, quem ultrapassa a faixa, quem não usa cinto, quem não paga a conta, quem não dignifica meu voto.

Quero rir de quem acha que precisa de silicone, implante, conta no banco, carro importado, laptop, bolsa XYZ, calca ZYX para se sentir inserido no contexto ou ser "normal".

Abaixo a ditadura do "tem que", as receitas de bolo para viver melhor, as técnicas para pensar, falar, sentir! Abaixo o especialista, o sabe-tudo rodeado de microfones e câmeras!

Abaixo o "ter", viva o "ser"!

E viva o retorno da verdadeira vida, simples como uma gota de chuva, limpa como um céu de abril, leve como a brisa da manhã!

E definitivamente comum, como eu.

Cesar Costa- 01/04/2010.


Não tenho a mínima noção de quem seja César Costa,mas o texto foi, casualmente, encontrado na Web, e confesso que fiquei tocada por ele. Creio que a maioria de nós sente-se assim , aviltada e ludibriada por valores invertidos com os quais convivemos oprimidos no cotidiano.

Esse texto é um "senhor" desabafo!Valeu para ele, valeu para mim e pode valer para você!

terça-feira, 20 de julho de 2010

sábado, 17 de julho de 2010


Meu querido...

Sem dúvida,é agradabilíssima surpresa: uma carta sua para mim. Em pleno século XXI, quando a fria tela do computador vem substituindo o papel com tanta agilidade, eis que surge sua letra tão facilmente reconhecível em um envelope de papel pardo.Isso foi de uma gentileza ímpar.

A primeira página já o entregou: impressionante como pode ser tão analítico aos dezoito anos. Inacreditavelmente contundente , quando crê que já sabe o que quer e o que é.Mas, num relance, li a sequência e percebi o desencanto absolutamente normal a todos aqueles que sonham . O sonho transformou-se em realidade e não é o que você esperava dele.

Não é difícil entender : sonhos são fantasias e realidade é o que temos, felizmente moldável ao que precisamos que seja. A paixão, querido,é uma chama efêmera...queima intensamente e termina. O que temos que cultivar é cumplicidade com o caminho profissional que escolhemos e amor por ele. Isso não surge do nada, é preciso construir. Demora,mas é gratificante.

Fazemos rascunhos de pequenas coisas durante a vida inteira, mas quando se trata de viver o “ nosso texto”, ele vai sendo escrito no livro definitivo. Não há como apagá-lo, mas, pode-se, sim, mudar o roteiro. Afinal , esse texto é nossa vida. Pode e deve mudá-lo sempre que ele lhe oprimir .

A vida não é feita só de retas perfeitas e mansos rios. Tem-se pelo caminho tortuosas curvas, quedas d’ água violentas, muita turbulência e , às vezes, calmaria. Tudo isso faz parte da incrível aventura que é viver, nem sempre como gostaríamos que fosse. Dói, dói mesmo, porém não há como evitar.

E que delícia você ter descoberto no livro uma companhia! Ainda é cedo, mas, um dia, você vai perceber quão importante e enriquecedor foi ter feito essa escolha.

Poderia escrever muito mais, mas você vai ter que descobrir sozinho a arte de conviver com alegrias e frustrações. No entanto,Guimarães Rosa é meu escolhido para terminar essa carta : “Tem horas em que, de repente, o mundo vira pequenininho. Mas noutro de repente ele se torna demais de grande outra vez. A gente deve de esperar o terceiro pensamento”. Reflita a respeito desse excerto.

Obrigada por haver dividido comigo um pedacinho da sua história.

Um beijo carinhoso. E não atropele a vida. Tudo virá no tempo certo.


Gizelda.

Em tempo: a jurista , embora diplomada, era a que devia ter sido e não foi. Agradeço todos os dias por Literatura ter sido meu terceiro pensamento.Só uma feliz mudança de roteiro...

PS : a missiva original foi enviada manuscrita ao destinatário,sem dúvida.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Um trapo.



Tinha-me levantado cedo e tardava em preparar-me para existir.

Era a ocasião de estar alegre. Mas pesava-me qualquer coisa, uma ânsia desconhecida, um desejo sem definição, nem até reles. Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo.

E quanto me debrucei da janela altíssima, sobre a rua para onde olhei sem vê-la, senti-me de repente um daqueles trapos húmidos de limpar coisas sujas, que se levam para a janela para secar, mas se esquecem, enrodilhados, no parapeito que mancham lentamentamente.


O Livro do Desassossego -Fernando Pessoa

Impregnada de Bernardo Soares até os ossos.
Meu Deus! Como esse homem consegue escrever assim?

terça-feira, 13 de julho de 2010

...quem realmente somos.




Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas.Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 25 centavos e outra menor, de 50 centavos.
Ele escolhia sempre a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.

Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não tinha percebido que a moeda maior valia menos.
'Eu sei' - respondeu o tolo assim: 'Ela vale duas vezes menos, mas no dia em que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar a minha moeda'.

'O maior prazer de uma pessoa inteligente é parecer o idiota, diante de um idiota que parece inteligente'.”

Arnaldo Jabor

Podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.O que importa não é o que pensam de nós, mas sim, quem realmente somos.O difícil é acreditar nisso.

domingo, 11 de julho de 2010

É um domingo às avessas...


"Não , não é cansaço...

É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar ,
É um domingo ás avessas
Do sentimento ,
Um feriado passado no abismo....


Não , cansaço não é...
É eu estar existindo
E tambem o mundo ,
Com tudo aquilo que contém ,
Com tudo aquilo que nele se desdobra

E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais
.


FP / Álvaro de Campos
...porque , felizmente, FP existiu e a vida me permitiu conhecê-lo.Simples assim.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sonhos da vida inteira.



...o Kramer apaixonou-se por uma corista que se chamava Olga. por algum motivo nunca conseguiam encontrar-se.ele gritava passando pela casa de Olga, manhãzinha (ela dormia): Olga, Olga, hoje estou de folga! mas nunca se viam e penso que ele sabia que se efetivamente se deitasse com ela, o sonho terminaria. sábio Kramer. nunca mais o vi. há sonhos que devem permanecer nas gavetas, nos cofres, trancados até o nosso fim. e por isso passíveis de serem sonhados a vida inteira.


Hilda Hilst, Estar sendo. Ter sido.

O que nos impusiona vida afora é realizar algo. Sonhos, especialmente. Quando eles se tornam reais, urge substitui-los, sob pena de afundarmos em solidão. Sim, é isso, a maior companhia de alguém é seu sonho mais precioso, mesmo que nunca se realize.

domingo, 4 de julho de 2010

Colheita.



Foi preciso muito tempo, na verdade uma vida, para eu me convencer de que expectativas colocadas em outras pessoas raramente se realizam.

Incontáveis vezes li e reli sobre isso, acho mesmo que sempre soube, mas eram apenas palavras, conceitos, conhecimento, não aplicação.Teoria sem prática.

Depois de um balanço providencial, tenho me sentido mais leve. Descobri que o melhor de que eu preciso está em mim: certeza de integridade profissional, sensação de dever cumprido, amor pela família ( selecionada...) e por amigos ( raros).

Olhar mais profundamente as manhãs ensolaradas,sentir a leveza da brisa ao entardecer, o sabor da fruta madura, a música do silêncio,viver com menos sobressalto, tomar decisões que me beneficiam...ah! Tudo isso só depende de mim,de mais ninguém.

Já não me incomoda tanto o que "os outros" pensam , dizem, fazem,onde vão, se me amam ou me vêem. Isto deixou de ser relevante.Finalmente.

Não direi que sou feliz, mesmo porque nem sei se conheço a tal "felicidade embriagadora" que a literatura tanto canta.Estou aprendendo a viver bem com o que tenho, mesmo quando não é tudo o que quero.

Enfim, vivo um momento de educação existencial essencial para minha alma.
Por quanto tempo?...não tenho a menor idéia,talvez nem dure, mas, no momento, estou gostando de me sentir assim.

Sem dúvida , é um princípio de colheita.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Desencanto.




Atalhos são apenas um modo de retardar o inevitável...a estrada permanece intocada e tem-se que recomeçar o que se pensou deixar para trás...doa o quanto doer.