quarta-feira, 30 de junho de 2010

Há muitas coisas que gostaríamos de jogar fora...


“É triste pensar nisso, mas, indubitavelmente, o Gênio dura mais do que a Beleza. Isto explica o motivo pelo qual nos damos tanto trabalho para adquirir cultura. Na luta feroz pela existência, desejamos ter algo de perdure e, assim, atravancamos nosso espírito de inutilidade e fatos, com a tola esperança de conservar o nosso lugar.

O homem bem-formado em tudo – eis o ideal moderno. E a mente do homem bem-formado é uma coisa horrível. Assemelha-se a uma loja de quinquilharias, cheia de de monstruosidades e de pó, tendo todos os objetos preço superior ao verdadeiro.

A fidelidade é, para a vida emocional, o que a coerência é para a vida do intelecto –simplesmente uma confissão de fracassos. Fidelidade! Preciso analisá-la um dia. Nela se acha a paixão pela propriedade. Há muitas coisas que gostaríamos de jogar fora, não fosse o receio de que outras pessoas as apanhassem.”


O retrato de Dorian Gray -Oscar Wilde.



Um pequeno texto para muitas reflexões:

" ter algo que perdure"...existe algo que perdura? Onde?Como?
" a tola esperança de conservar o nosso lugar" ...mas qual é o "nosso" lugar?
" paixão pela propriedade"...Propriedade ou posse? São reais? Ilusão?
" fidelidade é uma confissão de fracassos - para a vida emocional"...fidelidade em relação a quê? A si ou ao outro?

6 comentários:

  1. Muito legal o trecho, hein! De certa forma, me identifiquei com esse homem que afoitamente acumula quinquilharias.

    João Pereira Coutinho, não sei se ainda colunista da Folha de São Paulo, diz fazer uma coisa muito interessante todo fim de ano: procura diminuir sua biblioteca ao essencial.

    Não nos damos conta, muitas vezes, de que, sendo possessivos, deixamos de possuir algo para que ess algo acabe por nos possuir... e nos escravizar. Triste condição.

    bjosss

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  2. Comigo acontece o mesmo, Adriano...
    na maioria das vezes, sinto-me refém de lugares, coisas, pessoas, e que, na verdade, não me foram impostas.Eu as recolhi.

    Faço um mea culpa, olho, vejo e ...lamentavelmente, deixo como está.

    Quanta coisa para jogar fora, mas...reflexão e ação não sempre andam juntas.

    bejos. obrigada pela sua presença.

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  3. suas reflexões saem de Freud ? Jung? Aula de literatura ! Aula de alma!
    adorei!
    beijos

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  4. Querida Thaís
    A aula é a da vida, já mais longa do que consigo admitir. Pena que sou uma má aluna. Copio tudo o que a professora fala, mas não aprendo nada.

    Beijos.Obrigada por estar aqui.

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  5. De vez em quanto é preciso retirar a mochila das costas e aliviar o peso. Fazer uma escolha do que carregamos connosco. Guardar apenas o que é bom de guardar, mas há coisas que jamais pesarão. Essas coisas, são aquelas que nos acompanharão sempre, quer queiramos, quer não.

    Gosto de Oscar Wilde e da sua forma de ver os outros. Obrigada por partilhar mais um belo texto.

    Beijinhos :)

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  6. De vez em quando, nas férias quase sempre,faço uma varredura na casa e quando termino parece que ficou mais clara, mais bonita.

    O difícil, querida Helga,é fazer essa varredura dentro de mim.Sempre guardo "mais uma vez" o que preciso jogar fora.Embora não admita ,penso que acredito que haverá uma nova chance.

    Esse é o destino do homem : apego ao que já foi.

    Beijos.

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