segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"Cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias ..."




“Florentino Ariza não deixou de pensar nela um único instante desde que Fermina Daza o rechaçou sem apelação depois de uns amores contrariados e longos, e haviam transcorrido a partir de então cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias
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Depois de um longo tempo, Florentino Ariza olhou Fermina Daza ao fulgor do rio, viu-a espectral, o perfil de estátua suavizado por um tênue resplendor azul, e viu que chorava em silêncio.Mas, em vez de consolá-la, ou esperar que esgotasse suas lágrimas, como queria ela, deixou-se invadir pelo pânico.

-Você quer ficar só?
-Se quisesse não diria a você que entrasse.-disse ela.

Então ele estendeu os dedos gelados na escuridão, buscou tateante a outra mão na escuridão, e a encontrou à espera.Ambos foram bastante lúcidos para perceber , num mesmo instante fugaz, que nenhuma das duas era a mão que tinham imaginado antes de se tocar, e sim duas mãos de ossos velhos.


Gabriel Garcia Márquez

Gizelda ,impregnada até os ossos pelo amor incondicional de Florentino Ariza por Fermina Daza... Lindo.Imperdível.

Um comentário:

  1. Me permita um outro trecho do mesmo livro, ainda que não envolva diretamente Florentino:

    "Chegou a reconhecê-la no tumulto através das lágrimas da dor que jamais se repetiria de morrer sem ela, e a olhou pela última vez para todo o sempre com os mais luminosos, mais tristes e mais agradecidos olhos que ela jamais vira no rosto dele em meio século de vida em comum, e ainda conseguiu dizer-lhe com o último alento:

    - Só Deus sabe o quanto amei você."

    Tudo nesse livro, repetindo as suas palavras, é "Lindo. Imperdível.

    Um dos melhores que li "nesta vida de meu Deus".

    Beijo.

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