quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Somos o rio.


Somos o tempo, somos a famosa
parábola de Heraclito, o Obscuro.
Somos a água, não diamante duro
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos esse rio
a olhar-se no rio. A sua imagem
muda na água do espelho entre as margens,
no rio que varia, fogo cego.
Somos o rio vão, predestinado
rumo ao seu mar. De fogo está cercado.
Tudo nos diz adeus, tudo nos deixa.
A memória não cunha moeda lesta.
E no entanto há algo que ainda resta
e no entanto ainda há algo que se queixa.


Jorge Luís Borges, in Os Conjurados

Um comentário:

  1. Fazia tempo que nao comentava aqui! COmo sempre, encontrei bons textos, bons pensamentos e coisas que me encantam.
    Mas não eh porque nao comento que nao venho passear por aqui, viu! Sou sua fã!
    Sempre!

    Beijocas

    ResponderExcluir