terça-feira, 1 de setembro de 2009

O livro.




Às vezes uma palavra é suficiente para despertar em nós reflexões às quais nunca recorreríamos em circunstancias habituais.Aconteceu comigo nessa semana.Na segunda-feira..

Presenteei, há meses , um amigo com o livro que me é essencial.Ao fazê-lo pretendi compartilhar com ele algo que me é muito precioso e que divido com pouca gente.

A obra -descobri–a em 1997 - passou a fazer parte do meu cotidiano , acalmar minha alma, levar-me a muitas indagações para as quais não tenho resposta e me provocar a pensar em muitas coisas, em especial na vida e na morte...Elegi-a no meio de centenas que me povoam e me encantam. A intenção era premiar.

No início da semana reencontrei meu amigo (?) pela primeira vez depois do acontecido e fui surpreendida quando ele se lembrou,agradeceu-me e mencionou o fato de que a obra era tensa, pesada, desconfortável. Talvez nem sejam essas as palavras, mas o sentido, estou certa, era sim.

Hoje é sábado, mas desde aquela hora há seis dias atrás com extrema insistência tenho pensado a respeito.Cada ser humano é um.Quantas vezes já ouvi ou disse isso? Como não percebi?...a verdade é que não percebi, envolta no significado que o livro tinha para mim.

Cegueira ? Egoísmo?...Acredito que nenhum dos dois, embora não consiga precisar bem o que aconteceu.

Sinto-me,desde então, incomodada, querendo reparar minha falta . Passei bastante tempo procurando um exemplar que tivesse qualidades,leveza e me redimisse do ato. Porém estou insegura : não acho discernimento para escolher.

Há tantos...e ao mesmo tempo, nenhum.Como saber o que pode preencher prazerosamente a alma de alguém que pensamos conhecer e não conhecemos o suficiente?

Creio que a comparação vai parecer esdrúxula, mas livro é como perfume: o que é delicioso para um pode ser profundamente enjoativo para outro.Espero me precaver da próxima vez...

Não em relação a livros, mas- quem sabe?- a amigos.


Encontrado , por acaso, na minha agenda 2007 , 14 de abril.

2 comentários:

  1. Gizelda

    as aflições que te incomodaram são justas.

    Acho que você deve, sim, se precaver com relação a amigos (ou pelo menos a quem escolhemos presentear com livros). Infelizmente, é assim.

    Veja só: ganhei, na vida - e ainda ganho, que bom! -, vários livros. É claro que gostei de muitos, de outros nem tanto e de outros não gostei.

    Mas isso é o mais importante? Me parece que não. O simbólico é que alguém me presenteou com algo cuja perenidade é o mais relevante, sendo o livro um bom exemplo disso.

    Claro que podemos fazer análises críticas do livro com a pessoa que nos presenteou. Mas existem "formas e formas" de fazer isso.

    Sim, livros são como perfumes. Hoje em dia, para não correr o risco de "errar", dou de presente um "vale-livro", o que confere uma liberdade de escolha - ainda que sinta comichões em dar "aquele" livro de que gostei tanto.

    O seu incômodo, querida, se deu porque você é extremamente sensível.

    Me desculpe pela observação um tanto invasiva, mas penso que seu amigo(?) não merece a aflição.

    Abraço forte.

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  2. Oi, João...

    Quando se presenteia alguém com um livro, eu , pelo menos,dou um pouco de mim.
    Sutilmente o que se divide é mais que letras e papel,por isso sempre os entreguei a quem pudesse apreciá-los.
    Porém, quando você " entrega Fernando Pessoa" aos olhos, à sensibilidade de outro, sabe o que está fazendo.
    Dedução óbvia : conhecia o autor, e só pensava que conhecia o amigo.
    Entendeu a decepção?Quanto ao "amigo",nunca existiu . Foi só suposição.

    Bom dia
    Obrigada .Um abraço.

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