quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Como uma faca.



O mundo pára. E lembro-me de ti como uma faca, uma faca profunda, a lâmina infinita de uma faca espetada infinitamente em mim.

Não passou muito tempo desde que a manhã nasceu. Passou muito tempo desde que me deixaste sozinho entre as sombras que se confundiam com a noite. Noutras noites, olhamos para a lua. Nesta noite, não olhámos para a lua. Noutras noites, olhamos para a lua e enchemo-nos de desejos. Nesta noite, não olhamos para a lua e sofremos. Noutras noites, olhamos para a lua e não sabíamos o que era sofrer.

Escuridão e esperança.

Na lua, víamos mais do que o reflexo daquilo que queríamos inventar: os nossos sonhos. Víamos um futuro que era maior do que os nossos sonhos e que nos envolvia e que nos puxava para dentro de si. Nós sabíamos que nos esperava algo muito maior do que aquilo com que podíamos sonhar. Estávamos enganados.

Aqui, sobre estas pedras que brilham, sob estas lágrimas no meu rosto, sei que nos enganamos e sei a lâmina infinita de uma faca.
José Luís Peixoto

Nenhum comentário:

Postar um comentário