sábado, 18 de julho de 2009

A inevitável pergunta : por que eu?




Em 1992 um tumor de mama me visitou.Era insignificante no tamanho, mas poderoso no mal que trazia. Foi como uma noite de tempestade infernal e eu , sozinha, ao relento.Não era chuva de verão. Durou intermináveis anos da minha vida.O ritual diário era o mesmo a que se submetem , cotidianamente ,milhares de pessoas acometidas por essa doença.Doloroso e angustiante.Sem chão.

Durante dois anos lutei bravamente para não sucumbir. Não era dor. Era medo.A radioterapia me colocava em uma sala cinza e feia, onde um monstruoso aparelho, todos os dias, aproximava-se de mim, atada a uma maca. E aos sábados, fizesse sol ou chuva, o laboratório me esperava para um implacável exame de plaquetas.Essas manhã eram um mar de solidão...

Aqui começou uma história...

Sempre que lá chegava , era recebida solicitamente, as pessoas sorriam e se apressavam em me atender. E eu me regozijava por- pelo menos- ter escolhido um laboratório tão prestativo e tão humano.Jamais imaginei que, na verdade, uma força divina me protegia porque um equívoco se formara.

A fluidez do tempo, no entanto, foi me dando conta de que estava em lento processo de cura.Aos poucos a vida parecia ter mais brilho.

Então,em uma rua inusitada onde eu nunca costumava ir, encontrei, casualmente, um amigo que não via há muito ,e ele me disse que sua esposa era assistida por uma ginecologista, baixinha e risonha, que se parecia comigo e ...acreditem, chamava-se Gizelda Nogueira!Homônimos são comuns, mas raramente cruzamos com eles!.Fiquei curiosa...

Aquilo me deixou inquieta e não sosseguei enquanto não marquei uma consulta na Clínica Lane –era 1997. Quando me vi diante da outra Gizelda, e conversamos ,entendi que era alguma coisa maior. Ela também estava saindo de um câncer de mama e havíamos sido operadas pelo mesmo cirurgião...

Confesso que fiquei aturdida, embora o seu sorriso cálido não dissesse que ela se surpreendera tanto quanto eu.Fui-me embora e me esqueci do fato, que atribui a uma simples coincidência.Será que existe ???Saramago afirma que não.

Em 2002, passando aleatoriamente as folhas de um jornal de Campinas, vi meu nome impresso em uma página fúnebre. A princípio fiquei chocada, mas aos poucos compreendi que era ela: médica conceituada da Unicamp ( eis aí o porquê dos sorrisos no laboratório...eu era confundida com ela! Era o tal equívoco.)

Perguntei-me inúmeras vezes : por que ela e não eu? Estávamos na mesma estrada, o destino era semelhante, por que só a mim coubera mais tempo? Nunca houve resposta.Ou se houve não a percebi.

Recentemente, porém, ao fazer uma pesquisa,na WEB, deparei-me com uma homenagem póstuma a ela . De novo incomodada , li sua biografia : nascemos as duas no mesmo dia, no mesmo mês- 12 de fevereiro , ela em 1943 , eu em 1944...
Inacreditável. E mais : nasceu em Batatais, bem pertinho de mim, em Sales Oliveira ( pouco mais de 30 Km)Fomos vizinhas...

Fiquei absorta um longo tempo. E continuo me questionando. Seríamos parecidas em algo mais? Como pudemos estar tão próximas em tantos dados sociais, sem que nos conhecêssemos como pessoas, seres humanos, almas?
Sei que há milhares de pessoas homônimas por esse mundo afora,mas nome, sobrenome, data de nascimento, a mesma doença, o mesmo médico...ela morta ,eu viva!?

Falta alguma coisa nessa história: por que eu ?...

2 comentários:

  1. Como você mesma já colocou esse texto: “Algumas coisas não é possível explicar, talvez até a maioria das coisas. É interessante pensar nelas e fazer alguma especulação, mas o principal é que se tem que aceitar as coisas tal como são, e seguir em frente com aquilo que se entende”.
    Não foi você porque não tinha que ser, porque você ainda tem muito o que viver e fazer as pessoas viverem!!!! tudo tem um propósito, e o seu propósito é continuar encantando as pessoas por um boooooooooooom tempo!!!!

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  2. Estou com os olhos cheios de lagrimas. Uma mistura de trsietza e alegria. Mas fico tao, mas tao feliz por voce estar aqui e por eu ter tido tempo de trocar palavras e historias com vc! Mesmo ainda nao te conhecendo pessoalmente, sinto que esse eh o maximo de longe que podemos ficar e ao mesmo tempo as palavras nos deixam proximas.

    Alegria por ter voce no mundo!
    Vc é uma vitoriosa! Um exemplo.

    Beijo

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