quarta-feira, 27 de maio de 2009

Miura (excerto)



Gritos da multidão.
Que papel ia representar? Que se pedia ao seu ódio?
Hesitante, um tipo magro, doirado,entrou no redondel. Olhou-o a frio. Que força traria no rosto mirrado, nas mãos amarelas para se atrever assim a transpor a barreira?(...)
Mas o homem que visou, que atacou de frente, cheio de lealdade, inesperadamente transfigurou-se na confusão de uma nuvem vermelha...(...)
Avançou...Deu, como sempre na miragem enganadora.Iludido, outra vez. Parou. Não acabaria aquele martírio?(...)
Quando chegaria ao fim semelhante tormento?(...)
Quê! Pois poderia morrer ali, no próprio sítio de sua humilhação??! Os homens tinham dessas generosidades?!(...)
Calmamente, num domínio perfeito de si, Miura fitou a lâmina por inteira. Depois, numa arremetida que parecia ainda de luta e era de submissão, entregou o pescoço vencido ao alívio daquele gume.


És, pois,dono como eu deste livro, e, ao cumprimentar-te à entrada dele, nem pretendo sugerir-te que o leias com a luz da imaginação acesa, nem atrair o teu olhar para a penumbra da sua simbologia.Isso não é comigo,porque nenhuma árvore explica seus frutos, embora goste que lhos comam.
( Miguel Torga -Bichos )

segunda-feira, 25 de maio de 2009



Um pássaro não deve se superestimar tentando voar em direção ao sol; ele deve descer para a terra onde está o seu ninho"

Richard Wilhelm

domingo, 24 de maio de 2009

O julgamento do livro pela capa...Susan Boyle.




"I DREAMED A DREAM" - Eu Sonhei um Sonho
Claude-Michel Schönberg, Herbert Kretzmer, libretto & Alain Boublil.

Eu tive um sonho num tempo que já se foi
Quando esperanças eram elevadas e valia a pena viver
Eu sonhei que o amor nunca morreria
Eu sonhei que Deus estaria perdoando

Então eu era jovem e destemida
Quando sonhos eram feitos e usados e perdidos
Não havia nenhum resgate a ser pago
Nenhuma canção desconhecida, nenhum vinho intocado

Mas os tigres chegaram à noite
Com suas vozes suaves como trovão
Tal como eles rasgam sua esperança em pedaços
Tal como eles transformam seus sonhos em vergonha

E ainda sonho com ele vindo até a mim
E nós viveríamos juntos os anos
Mas há sonhos que não podem acontecer
E há tempestades que não podemos desafiar

Eu tive um sonho que minha vida iria ser
Tão diferente deste inferno que estou vivendo
Tão diferente agora do que parecia
Agora a vida matou o sonho que tive


http://www.youtube.com/watch?v=xRbYtxHayXo (legendado e imperdível)

Britain´s Got Talent

quinta-feira, 21 de maio de 2009

...




"Quando o vento sopra forte, devemos construir moinhos e não muralhas".
( Provérbio chinês)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Replay...de mim mesma.


Estou só...

Minha parceira de vida – e de vôo - viajou nesse final de semana. Cíntia,8 anos e 9 meses de uma existência mágica tornaram -na o meu “vale a pena”. Fiquei vazia de vozes, de ruídos,de sorrisos, de beijos estalados, mas repleta de lembranças que teimam em permanecer.

Pairo sobre o que fui e que sou com um poder (?) oco de observar algo que não consigo explicar, nem mudar. Dói. E dói muito.

A consciência de que tudo, desde a primeira vez, não passou de uma escolha, torna-me perplexa e pequena.

Tenho e tive o que escolhi.Não mais. Não menos.

Ir por ali e não por aqui,os caminhos se abrindo (...ou se fechando?) na fluidez do tempo que não me permitiu voltar. Ou parar.

Não há balanço.
Nem julgamento.
Não sei o bem ou o mal. Não há estrutura emocional para avaliar estragos, nem para dosar sucesso, se algum houve.Do infinito luminoso a um escuro poço sem escada. Ou vice-e-versa.Apenas foi.É.

Minha escala de valores contabiliza dores e alegrias com a mesma profundidade. Irreversíveis. Quase não acredito que as vivi.

Sair de mim, ver-me assim é, paradoxalmente, um soco na boca do estômago com uma rosa entre os dentes...e dói.

Gizelda, 31/03/2007

Em uma manhã chuvosa de outono é exatamente assim que estou me sentindo 2 anos após esse post. (Será que alguém já repetiu um post?)
Idas e voltas depois, é difícil aceitar que dentro de mim tudo está no mesmo lugar.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ler um mau livro.



"A vida é demasiado curta para se ler maus livros». Eis o que diz muita gente que faz da qualidade um fetiche. Só se deve ler bons livros, ver bons filmes, ouvir boa música ou falar apenas com gente inteligente, e tudo o resto é pura perda de tempo, blá, blá, blá... No entanto, ler maus livros é uma inevitabilidade. É como ter tido uma péssima relação amorosa: faz parte da aprendizagem da vida e permite-nos distinguir o que é bom do que é mau. Mas, tal como nas relações amorosas, não sei porquê, também no caso dos maus livros temos tendência para reincidir."

Nota: Post de um livreiro que acabou de ler um mau livro.

Jaime Bulhosa

sábado, 2 de maio de 2009

A Lição de Música.


Lê este texto em voz alta e em diferentes intensidades
Varia também a velocidade em que o lês
Baixo
Forte
Calmo
Rápido
Vence
Por isso
Essa timidez que te acanha e que te constrange a tomar posse do que aqui está e a extroverteres-te
Afirmando que és capaz
Lê-o como se tivesse sido escrito por ti e coloca-lhe a pontuação que entenderes
Dá-lhe também a entoação que quiseres
Integra-o ao sabor dos teus humores e de preferência experimenta voltar a lê-lo já com um humor diferente e sempre em voz alta
Tenta abstrair-te da forma em que está escrito e não te deixes condicionar pela sugestão de se tratar ou não de um poema
Sem alterares o texto
As palavras que se encontram escritas
A não ser nos pormenores do género fazendo-o
Se quiseres
Coincidir contigo próprio
Com aquele que consideras ser o teu género
Ou aquele em que te queres meter
Dramatizando
Pinta-o tu
Interpreta-o
É fundamental que o interpretes
Faz como o músico que tendo de respeitar o que está escrito na pauta
No entanto a instila da sua própria anima não deixando de descurar a técnica
Melhor
Tendo
Por isso
De apurar a técnica
Portanto
Lê-o até sair fluido e sem hesitações
Sem fífias ou desafinações como se diz em linguagem musical
Repete as partes onde as dás até se desvanecerem
Não o texto integral mas apenas essas partes e cola-as bem coladas
Ligando-as
Ao texto
Numa unidade coerente
Pontua o que lês com pausas o que te obriga
Uma vez mais
Ao estudo interpretativo que a elas as permitas fazer com toda a oportunidade
É a própria interpretação
Ela também
Que te irá fornecer a cor adicional àquilo que lês
Quebrando
Desse modo
O monocórdico de um monólogo feito de muita tecnicidade mas sem nenhuma veia
Repete e volta a repetir até o texto sair como se fosse teu
E como se o tivesses de dizer
Com toda a naturalidade e convicção
A uma imensa assembleia
Fixa
Para tal
Um ponto abstracto e tão distante quanto o possível
Cerebral e profundo
No teu interior
Pois que não há maior distância do que essa
Para que
Assim
Consigas projectar a tua voz em direcção a ele e logo a toda a assembleia
Tenta distanciar-te de ti próprio e ouve-te a ti mesmo
Como se não fosses tu que falasses mas um teu eu intermédio entre ti e o público
Entre ti e o texto também
Distancia-te mais ainda
Como se te visses
Com espírito crítico
Ao espelho
No espelho do público e no espelho do texto
E se quiseres
Para te ajudar e se assim te sentires mais à vontade no exercício que te proponho
Então
Ao leres
Apoia-te em música de fundo do teu gosto ou selecciona-a dos anexos deste blogue
Fazendo
No entanto
Sobressair a tu voz a tudo o resto
Ouve
Finalmente
Se gostas do que lês
Se não gostares do resultado final
Se calhar
É porque o texto não te merece
Se gostares
É porque a lição de música chegou ao fim

Jaime Latino Ferreira ( A Música das Palavras)