sábado, 14 de fevereiro de 2009

O rio e o coração.




"Como ele sempre dissera:o rio e o coração, o que os une? O rio nunca está feito, como não está o coração. Ambos são sempre nascentes, sempre nascendo. Ou como eu hoje escrevo: milagre é o rio não findar mais. Milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida."

"A chuva pasmada"- Mia Couto

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

SERENATA DE ANIVERSÁRIO



Contam que os anos das nossas vidas
Juntam e escolhem os nossos cortejos
Que, na dor, na dita ou na despedida,
Tornam serenos nossos lacrimejos.

Poderia muito mais nesse ensejo
Te dizer, muito fora das medidas,
Verdades de feridas e desejos
Enredo quase digno de avenida.

Nesta data, não porém, eu me apronto
E te escrevo confiando alegria
Roda de samba, sereno e luar.

Em teu dia, faça-te em belo conto
Desembrulha-te! Sem estrela-guia
Pois hoje é teu dia; e sempre será.

Rui Keiner
...um aluno especial que, um dia, passou por mim e, hoje,lindamente mostra ao mundo um pouco de sua muita sensibilidade enquanto PESSOA.
Obrigada pela linda homenagem, Rui.

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Quantas!!!!




Quantas?!!!! 65 velas depois, ainda uma pergunta sem resposta :

Quem sou eu?

?

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Palavras são jóias...espumas.



... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ...

Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

*Butifarra: espécie de chouriço ou lingüiça feita principalmente na Catalunha, Valência e Baleares. (N. da T.)


Pablo Neruda